Prefeitura acredita que uso do Bilhete Único no Uber pode reduzir necessidade de subsídios ao transporte coletivo

ônibus

Ônibus em São Paulo. Prefeitura quer aumentar número de passageiros não integrados.

Estudos estão em andamento. Lógica se baseia no fato de passageiro utilizar o aplicativo e apenas uma viagem no ônibus sem integração

ADAMO BAZANI

Prosseguem os estudos da Prefeitura de São Paulo para a possibilidade de o Bilhete Único ser também aceito em aplicativos de transporte como o Uber e o Cabify.

No último dia 7 de maio deste ano, o Blog Ponto de Ônibus já havia trazido esta informação. Uma das intenções da prefeitura à época era fazer com que parte da arrecadação com os aplicativos fosse utilizada para construção de corredores de ônibus, por exemplo. Relembre: https://diariodotransporte.com.br/2016/05/07/haddad-quer-que-bilhete-unico-seja-usado-para-pagar-taxi-e-uber-arrecadacao-pode-ir-para-corredores-de-onibus/

Nesta sexta-feira, 10 de junho de 2016, os jornalistas Bruno Ribeiro e Fábio leite do jornal O Estado de São Paulo trouxeram matéria dizendo que a prefeitura acredita que a possibilidade do uso de créditos do Bilhete Único para pagar as corridas do Uber e de outros aplicativos pode estimular o uso do transporte público, no entanto, tendo como um dos resultados a redução de subsídios ao sistema gerenciado pela SPTrans.

Isso porque, de acordo com a lógica da Prefeitura de São Paulo, muitas pessoas pegariam os carros dos aplicativos em regiões mais afastadas e se deslocariam até o terminal de ônibus mais próximo para seguirem em direção à região central.

Esta nova demanda utilizaria assim apenas um ônibus por sentido de viagem, ou seja, pagaria a tarifa cheia.

Hoje uma das grandes necessidades dos subsídios é justamente por causa das integrações entre diferentes linhas de ônibus.

O passageiro paga uma tarifa apenas. No entanto, a prefeitura deve pagar a tarifa técnica às empresas para cada ônibus utilizado. Hoje a tarifa técnica em São Paulo varia entre R$ 1,50 e R$ 3,25, dependendo da região e da extensão do serviço.

Assim, por exemplo, se um passageiro utiliza apenas um ônibus cuja tarifa técnica é de R$ 3, os 80 centavos de diferença referente a tarifa do município, que é de R$ 3,80 vão para a conta do sistema de transportes.

Mas também por causa das integrações esta conta é sempre deficitária.

Isso porque é grande a demanda de passageiros que utilizam mais de um veículo de transporte coletivo municipal.

No mesmo exemplo, enquanto um passageiro usa um ônibus, “sobrando” R$ 0,80 para a conta sistema, outro poderá usar três ônibus integrados pelos mesmos R$ 3,80 da tarifa do município. Supondo que no primeiro a tarifa técnica (valor para as empresas) é de R$ 1,50, no segundo é de R$ 2,00 e no terceiro de R$ 2,50, a prefeitura teria de pagar às empesas da seguinte maneira:

  1. Sistema registra R$ 3,80 de entrada
  2. Prefeitura paga R$ 1,50 para a primeira linha de ônibus
  3. Sobram R$ 2,30
  4. Prefeitura paga R$ 2,00 para a segunda linha de ônibus
  5. Sobram R$ 0,30.
  6. Prefeitura paga R$ 2,50 para a terceira linha
  7. Déficit de R$ 2,20 (superior aos R$ 0,80 que sobraram do exemplo anterior).

Além das integrações, há outros passageiros que são transportados sem “remunerar” a conta-sistema dos transportes, como idosos com 60 anos ou mais, deficientes, carteiros, policiais, conselheiros participativos e estudantes, por exemplo.

A complementação dos recursos precisa sair dos cofres do município. Assim  é hoje o modelo de subsídio em São Paulo.

Hoje, o passageiro “custa”, em média, R$ 5,71 em São Paulo.

Com esse tipo de incentivo como o uso de parte do trajeto por meios como Uber, ainda na lógica da prefeitura, poderia aumentar passageiros que não dependem de integrações e rendem tarifa cheia maior que a tarifa de remuneração. É mais dinheiro na conta-sistema para cobrir integrações e gratuidades.

Por enquanto, não há prazos em nem conclusão da administração para que o Bilhete Único seja de fato utilizado para pagar os aplicativos.

Vale ressaltar que mesmo assim,  o número de passageiros com integrações ainda será maior e que uma parcela pequena de pessoas usaria o Bilhete Único no Uber e seguiria de ônibus, mas é uma aposta da prefeitura.

 Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

Comentários

Comentários

  1. Paulo Gil disse:

    Amigos, boa noite.

    Agora parece que estão começando a utilizar a matemática da Tia Cotinha.

    E pelo visto vai sobrar para o UBER e paro o Cabify, isso se eles não desaparecerem, afinal essa conta não é do UBER nem do Cabify.

    “Papagaio come milho e periquito leva a fama”

    Att,

    Paulo Gil

  2. Bruno Lopes disse:

    Pela lógica da prefeitura, que não tem lógica nenhuma. afinal incompetente feito aqueles dois espero que não apareça outro na prefeitura pq olha…

  3. Acho a ideia interessante, porém falta tirar qualquer transporte que não seja ônibus dos corredores, mesmo a maioria sendo na ZS.

  4. Luiz Vilela disse:

    Ideia de jerico!
    Integrações são fundamentais em áreas metropolitanas enormes com a de Sampa.
    Uber seria mais uma; obviamente um trecho bem mais caro.
    O conceito “um ônibus só pro deslocamento” é perverso e responsável pela manutenção teimosa e contraproducente de linhas de ônibus que já deveriam ter sido extintas. Conceito furado de “conforto” pro usuário, que ainda desconfia da qualidade das integrações trens-ônibus
    Prefeitura precisa é aceitar a Lei 12.587 e assumir modelo de rede multimodal hierarquizada, priorizando a eficiência do deslocamento: menor tempo e menor distância possíveis na rede pública.

Deixe uma resposta

Descubra mais sobre Diário do Transporte

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter acesso ao arquivo completo.

Continue reading