Transporte individual representa 85% dos custos de mobilidade no País, mas só transporta 31% mostra estudo inédito

mobilidade urbana

Ônibus urbano. Transportes coletivos são responsáveis por mais da metade da distância percorrida pelas pessoas em 489 municípios e por atender 29% dos deslocamentos. Mesmo assim, o transporte individual ainda recebe três vezes mais investimentos e provoca custos cada vez maiores para a sociedade. Foto: Adamo Bazani

Transporte individual custa cada vez mais para a sociedade, diz relatório da ANTP
Deslocamentos por carros representam 85% dos gastos mas só atendem 31% das pessoas. Viagens a pé ou de bicicleta são maioria e ônibus atendem a maior parte dos passageiros por transporte público
ADAMO BAZANI – CBN
Que os transportes individuais representam custos para o poder público, empresas e para o cidadão e que as polícias que incentivam essa forma de deslocamento hoje beiram a insanidade não é novidade.
Mas o fato novo é que a disparidade entre os custos e investimentos para os deslocamentos individuais e os coletivos aumentou.
Nesta terça-feira, dia 29 de julho de 2014, a ANTP – Associação Nacional dos Transportes Públicos divulgou o mais recente relatório do SIM – Sistema de Mobilidade Urbana da ANTP referentes aos dados de 2012.
O trabalho foi bem extenso e levantou os dados referentes aos sistemas de transportes de cidades com 60 mil habitantes ou mais, o que representa 438 municípios que somam 119 milhões de habitantes – 61% da população brasileira.
De acordo com o levantamento, contanto os próprios deslocamentos e as externalidades (poluição, acidentes de trânsito, uso de estrutura viária, etc), a mobilidade para 61% da população em todo o País custa R$ 205,8 bilhões. Os transportes individuais motorizados consomem R$ 174 milhões, o equivalente a 85% de todos os custos.
Mesmo pesando muito no bolso, os transportes individuais não atendem à maioria da população. De acordo com o levantamento, “as viagens a pé e em bicicleta foram a maioria (25,1 bilhões = 40% do total), seguidas pelo transporte individual motorizado – carros e motocicletas (19,4 bilhões = 31% do total) – e pelo transporte coletivo (18,2 bilhões = 29% do total), sendo que o transporte coletivo é responsável por percorrer 57,2% das distâncias nas viagens habituais. Os carros são usados apenas em 31% das distâncias.
Ainda segundo o estudo, apesar de representar mais custos e atender a minoria, o transporte individual recebe pelo menos três vezes mais recursos que o transporte coletivo ou para a melhoria dos deslocamentos a pé e por bicicleta, como construção de calçadas melhores e ciclovias realmente seguras.
ÔNIBUS REPRESENTAM A GRANDE MAIORIA DOS DESLOCAMENTOS POR TRANSPORTE PÚBLICO:
Enquanto os carros e motos recebem a maior parte dos estímulos diretos e indiretos, são os ônibus os responsáveis pela maior parte dos deslocamentos em transportes públicos.
Os dados mostram a necessidade de o transporte por ônibus receber prioridade e investimentos para que a maioria da população brasileira seja atendida com mais qualidade.
“O relatório informa que do total das viagens realizadas em transporte coletivo (18,2 bilhões) nas cidades brasileiras com mais de 60 mil habitantes, 70% delas aconteceram em ônibus municipais, 17% em ônibus metropolitanos e 13% em trilhos” – diz a ANTP em nota.
TRANSPORTE PÚBLICO AINDA GASTA MAIS TEMPO DAS PESSOAS:
Os estudos ainda mostram outra complicada realidade. Apesar de realizar mais da metade das distâncias em todo o País, o transporte público, ao não receber prioridade no espaço urbano e nas políticas para a mobilidade, faz com que as pessoas percam mais tempo nos ônibus, trens e metrô.
“Nestes deslocamentos os habitantes das cidades que formam o universo da pesquisa (com mais de 60 mil moradores) gastam, por ano, 22,4 bilhões de horas para deslocar-se. A maior parte do tempo é gasta nos veículos de transporte público (49%), seguido pelas viagens a pé (25%). O usuário de transporte coletivo está sujeito, assim, a tempos médios de viagem superiores – gastam mais tempo, portanto, em seus deslocamentos. Conclusão: o transporte coletivo representa 29% do total das viagens, mas consome 49% do total de tempo na mobilidade.” – dia a ANTP
EXTERNALIDADES E CUSTO DE ENERGIA:
Os carros também podem ser considerados os grandes vilões em relação aos impactos ambientais e o consumo de energia para os deslocamentos. Além disso, o transporte individual tem custos de externalidades bem superiores ao transporte público: seis vezes mais em relação a acidentes de trânsito e quatro vezes mais a respeito da poluição, como detalha nota da ANTP:
“Energia. Na questão ambiental tem-se que os automóveis são os grandes vilões no consumo de energia. Por dia as pessoas que usam transporte individual consomem 75% da energia (72% carros e 3% motos), ao passo que os usuários de transporte coletivo consomem apenas 25%. No ano de 2012 os custos individuais da mobilidade são estimados em R$ 184,3 bilhões – desse montante o transporte individual responde por 79%. Já os custos sociais (arcados pelo poder público) são estimados em R$ 10,3 bilhões por ano. De novo o transporte individual é o maior gastador: 77%. Quando se comparam as despesas individuais por habitante, vemos que elas crescem de R$ 2,53 por dia nas cidades menores para R$ 7,20 por dia nos municípios maiores. Ou seja, quase triplica.
Custos das externalidades.Outro dado importante e ao mesmo tempo assustador: o custo total da emissão de poluentes e dos acidentes de trânsito é de R$ 21,5 bilhões por ano: cerca de R$ 6,3 bilhões referem-se à poluição atmosférica e R$ 15,2 bilhões aos acidentes de trânsito. Nestes indicadores mais uma vez se nota o prejuízo à sociedade causado pelo transporte individual (motorizado): o transporte coletivo responde por um gasto de R$ 2,2 bilhões por ano em acidentes de trânsito, enquanto o transporte individual consome mais de 6 vezes este valor: R$ 13 bilhões. No custo da poluição outra relação desfavorável para a maioria dos habitantes: enquanto o transporte coletivo provoca um custo de R$ 2,3 bilhões /ano, o transporte individual responde por quase o dobro, R$ 4 bilhões.”
Sendo assim, não investir em transporte público, além de ser o continuísmo de uma política que não dá valor às vidas, pode ser considerado do ponto de vista econômico e social uma tremenda falta de inteligência por parte daqueles que estão no poder e só pensam de forma imediatista: no voto de uma sociedade apaixonada por carro, apesar de sofrer por causa dele.
O RELATÓRIO COMPLETO VOCÊ CONFERE AQUI:

Clique para acessar o Rel_2012_V2%20docx.pdf

Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes

Comentários

Comentários

  1. Pedro disse:

    Enquanto andamos em ônibus velhos e com intervalos longos, a Dilma investi no crédito para a compra de automoveis, este governo so tem uma receita para aquecer a economia a venda de carros, por isso esta na bancarota.

  2. Paulo Gil disse:

    Amigos, bom dia.

    Mais uma PREVISÍVELLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL.

    O legal desse relatório foi que ele mensurou valores, mais o geral era mais do que previsívellll.

    Não é critica é só uma constatação, pois desde o desenvolvimento da era industrial do Brasil a partir da segunda guerra mundial e impulsionado por Juscelino Kubitschek, isto é obvio.

    Porém graças a Deus, quase tudo evolui e muda (menos o buzão de Sampa) e o que ocorre hoje com relação ao tema mobilidade é a mudança que chegou nesta área.

    Vou citar só alguns exemplos, de fácil comparação, pois existem muitos outros.

    – Houve época em que a mulher, fumar e trabalhar, ou ambos, era um absurdo;

    – Fumar já foi chique, hoje nem tanto (lembram das propagandas do Holywood ?);

    – Até algumas décadas, ninguém utilizava cinto de segurança nos veículos, depois chegou a ficar chique, hoje é normal e até criamos o hábito;

    – Buzão com elevador, prédios e banheiros para PNE´s são coisas recentes no Brasil;

    – Ter carro e utilizar carro já foi chique, já foi bom negócio, porém ainda é mais prático do que utilizar o buzão.

    Mais isso vai mudar, mai só a partir de 2099 e olhá lá.

    Vou provar, porque.

    Outro diz fiz um comentário dizendo que há carência de ligações rápidas entre as estações da CPTM e do Metrô, quem leu lembra, até sugeri o uso de micros, num sistema “VAPT VUPT”.

    Pois bem, estou necessitando de ir da Rua Gentil de Moura até a Penha de transporte público.

    Ai pensei, como ?

    Entrei no Google e fiz uma busca, os trajetos que são mostrados todos se assemelham a letra “U” na horizontal ( em linhas gerais levam o cidadão até a Sé e depois até a Penha).

    Ai pensei:

    A estação Alto do Ipiranga do Metrô é uma estação importante; a estação Penha do Metrô, também é uma estação importante; então porque não tem um AEROTREM ligando as duas em linha reta e no “ar” (evitando muitas desapropriações).

    Não tem porque ainda pensam e agem como antigamente (a moda da CMTC), fazem AEROTREM o qual é um modal de baixa / média capacidade para percursos enormes, a exemplo o que será construído no ABC.

    Alguém já pensou se esse AEROTEM de longo percurso, fosse fracionado ligando estações de alto volume de trânsito de passageiros da CPTM e do Metrô ?

    Tai a resposta.

    Quando eu dou o exemplo da CMTC, não estou criticando a CMTC, pois para a época ela era evoluída e moderna, porém a gestão de transporte público de hoje trabalha nos mesmo moldes que a CMTC trabalhava há décadas.

    Então é isso, quem puder faça a busca no Google e vejam o trajeto o qual é apresentado (um U deitado), para melhor compreender o que eu escrevi aqui.

    É o sistema VASP; a menor distância entre dois pontos é uma curva; talvez seja por isso que vão dar um presentão para as companhias aéreas, fora o aeroporto de Claudio em MG, é claro.

    Ainda bem que há a morte, para renovar os improdutivos e atrasados que não largam a “teta”

    Relembrando uma frase de para choque de caminhão:

    “SE SEIO FOSSE BUZINA, ESSA CIDADE NÃO DORMIA”

    Antes de encerrar:

    Sabem como eu vou da Gentil de Moura para a Penha ?

    Infelizmente, de carro.

    Pois eu não vou pagar esse mico, de ser obrigado a fazer um trajeto estúpido, enquanto as VIGAS do AEROTREM (Penha – Lapa), apodrecem às luzes do sol e da lua, afinal até agora não tem nenhum funcionando.

    Ahhhhhhhhhhhhh como eu sou bobinho, é porque é cedo ainda o primeiro trecho será inaugurado junto com o início da propaganda eleitoral.

    Mas um dia isso tudo muda, nem que seja outra viga do AEROTREM que caia.

    Att,

    Paulo Gil

    1. alexandro disse:

      No futuro a linha 2 verde vai passar pela penha! Isto irá ajudar-te muito!
      Assim como no futuro o monotrilho chegará até o Ferrazópolis em São Bernardo e me ajudará bastante!
      É claro, devemos esperar uns 5 anos pelo menos, até lá muita coisa vai rolar!

      Só por curiosidade, seria interessante você testar o seguinte caminho:
      Do alto do ipiranga desce no tamanduateí (linha 2 verde e 10 turquesa)
      e pega a linha 10 turquesa com destino ao brás.
      do brás pega a linha 3 vermelha com destino itaquera descendo na penha!

      É interessante depois falar os 3 tempos!
      -carro
      -indo pela sé
      -indo pelo tamanduateí

      Será o tempo do carro, a metade do tempo de transporte público e o dinheiro gasto o dobro?
      Isto acontece comigo no trajeto Ferrazópolis (emtu) – metrô brigadeiro!

      1. Paulo Gil disse:

        Alexandro, boa noite.

        Interessante sua sugestão, mas da linha “10 turquesa com destino ao brás”, estarei andando pra trás por isso não farei esse caminho.

        E esse percurso só farei amanhã e não sei quando será a próxima vez.

        Infelizmente as opções de mobilidade que é dada aos cidadãos em Sampa elas são
        “caranguegistas ou zigzagueista”, por isso que não vinga.

        Valeu a dica !

        Abçs,

        Paulo Gil

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