VVR: As histórias pelos transportes

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A paixão pelos transportes fez com que o empresário Antônio Sérgio Hurtado, inicialmente sem grandes pretensões, se tornasse proprietário de um dos acervos particulares mais raros de ônibus e caminhões. Neste ano, ele surpreendeu ao apresentar a penúltima unidade de um lendário CMA da Cometa, com as cores originais da empresa. No ano que vem, tem um GM ano 1958, também “da Cometa”. Foto: Adamo Bazani.

VVR: A paixão pelos transportes
Restauradores e colecionadores preservam verdadeiras relíquias que contam histórias fascinantes de vida e desenvolvimento
ADAMO BAZANI – CBN
O setor de transportes seja de cargas ou de passageiros desperta verdadeira paixão. Pergunte a muitos motoristas de caminhão e de ônibus se, por mais desgastante que seja a profissão, se eles a trocariam por outros afazeres. Muitos diriam que certamente não.
O maior encontro nacional de ônibus e caminhões antigos, “VVR – Viver, Ver e Rever- a Evolução” provou que em cada máquina restaurada e preservada há verdadeiras histórias de superação e paixão por um setor que fascina como uma bela estrada.
O evento continua neste domingo gratuitamente no Memorial da América Latina, na Praça do Sol, na Barra Funda, zona Oeste de São Paulo, das 9 horas às 16 horas, com entrada gratuita.
É possível reviver épocas diferentes e ter conhecimento de fatos que foram fundamentais para evolução das cidades.
Em todos estes fatos, um ônibus ou caminhão faziam parte.
E foi o amor pelos transportes e por vidas que fez o empresário Antônio Sérgio Hurtado se tornar hoje um dos maiores colecionadores particulares de veículos pesados antigos.
Ele possui 26 caminhões de diversas marcas e épocas e quatro ônibus que são verdadeiras relíquias.
Dois deles foram apresentados na edição de 2012 do evento VVR, organizado pelo Primeiro Clube do Ônibus Antigo Brasileiro.
Um veículo despertou saudades em quem cruzou parte das estradas do País e se deparava com os imponentes Scania CMA Flecha Azul da Viação Cometa. Conhecido pelos amigos como Neo, Antônio Sérgio Hurtado comprou o penúltimo veículo leito K 124 iB com carroceria CMA, que era produzida pela própria Viação Cometa. O amigo dele comprou o último produzido e também expôs no evento.
Hurtado fez questão, com autorização da empresa, de manter as cores originais, as inesquecíveis alumínio, creme e azul.
A explicação se dá pelo fato de ele reconhecer a importância da empresa na história dos transportes.
Até mesmo quem não prestava muita atenção em ônibus, não resistia e se atentava pelos imponentes Flecha Azul, chamados por muitos de Dinossauro, que era o nome do modelo anterior, com características semelhantes, que eram produzidos pela encarroçadora Ciferal, antes de sua falência em 1982. Aliás, a criação da CMA – Companhia Manufatureira Auxiliar – pela Cometa foi para dar continuidade ao Dinossauro.
Hurtado reserva outras surpresas para os admiradores de transportes.
A empresa também teve mais um modelo emblemático, o GMPD, apelidado de Morubixaba, importado dos Estados Unidos para manter a hegemonia da Cometa na importante ligação Rio – São Paulo.
Antônio Hurtado conseguiu um exemplar de 1958 e avisa que vai deixá-lo nas cores da viação.
Mais um veículo do colecionador chamou a atenção. Era a enorme carroceria Cermava, ano 1966, do Papa-Fila.

Papa Fila

Também é do empresário Antônio Hurtado o gigante Papa-Fila, que pode ser chamado do precursor do ônibus articulado e reflete um momento no qual as cidades e o número de passageiros cresciam. Foto Adamo Bazani


O Papa-Fila foi reflexo e uma resposta ao desenvolvimento rápido dos centros urbanos, em especial entre os anos de 1950 e 1960.
A demanda de passageiros em algumas linhas de ônibus urbanos crescia a ponto de os veículos convencionais, a maior parte, pequenos se comparados com os de hoje, não dessem conta de tanta gente.
O primeiro ônibus articulado só seria feito em 1974, um Scania 111, Caio Gabriela. Assim, o Papa-Fila foi o antecessor do articulado, em sua essência. Tratava-se de uma enorme carroceria de ônibus tracionada por um cavalo de caminhão.
O modelo impressiona pelo seu porte e mostra que, como ele, tudo nas cidades se tornava grande.
O exemplar exibido na VVR foi adquirido da Marinha, em Belo Horizonte.
A coleção de Antônio Sérgio Hurtado começou despretensiosa.
“Primeiro meu objetivo foi fazer um motor-home com um ônibus. Depois, tive a oportunidade de fazer outro. Até que percebi que estava apaixonado. Agora quero restaurar e ter ônibus e caminhões raros. Se preparem para o ano que vem, o Cometa GM 1958 vai ficar lindo e eu vou colocá-lo na VVR de 2013” – diz orgulhoso.
Os transportes, sem dúvida são fascinantes, guardam história e dão oportunidades para manifestações artísticas, como a música.
E a “rainha dos caminhoneiros”, Sula Miranda, se tornou madrinha da VVR a partir da edição deste ano.

Sula Miranda

Também é do empresário Antônio Hurtado o gigante Papa-Fila, que pode ser chamado do precursor do ônibus articulado e reflete um momento no qual as cidades e o número de passageiros cresciam. Foto Adamo Bazani

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A cantora Sula Miranda, conhecida como “Rainha dos Caminhoneiros” se tornou a madrinha da VVR, exposição de ônibus e caminhões antigos. Ela ficou apaixonada pelo mundo dos transportes e se recorda de um ônibus cor de rosa, que usava para as turnês, que se tornou também uma das marcas da artista.

“O caminhoneiro e o motorista de ônibus têm uma rotina semelhante a do artista. Vive da estrada, cruzando este País. Então decidi gravar uma música em homenagem aos caminhoneiros e tive a honra de ser conhecida assim. A primeira vez que dirigi um caminhão eu peguei um Fiat, de direção dura, foi um desafio, mas nascia uma paixão” – contou a cantora Sula Miranda que retoma agora sua carreira para o público.
Sula Miranda também se destacou por um ônibus cor de rosa que era usado para turnê.
“Era um modelo da Volvo, me sentia como em casa com ele, tinha quarto e ia descansando para fazer os shows. Era muito confortável. Esse ônibus chamava bastante a atenção por onde passava, era minha marca. Quantas vezes a polícia rodoviária parava ele alegando ter de checar um pneu ou uma lanterna, mas na verdade eram os policiais que queriam ver como era o ônibus” – diverte-se ao recordar.
Assim como os transportes tocaram o coração da cantora, diariamente, milhares de pessoas se encantam com os gigantes ônibus e caminhões e conseguem ver nestes veículos tão especiais um pouco de suas próprias vidas.
E para isso que a VVR surgiu, para fazer as pessoas relembrarem e reviverem.
Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes.

Comentários

Comentários

  1. Kaio Castro disse:

    Ádamo, boa noite. Ainda cansado de um dia quente, porém sem a forte chuva de ontem, mas muito agradecido a Deus pelo momento vivido, quero deixar aqui os maiores e melhores agradecimentos pela sua presença prestigiando-nos.

    Seu texto acima, retrata brihantemente a “VVR 2012” àqueles que não tiveram oportunidade de comparecer.
    Abraços
    Kaio

  2. blogpontodeonibus disse:

    Obrigado Kaio. Na verdade, todos nós devemos essa dádiva que é a VVR aos seu empenho e esforço. O pouco que pude acompanhá-lo melhor , vi a dificuldade e a força de vontade para que um evento desta magnitude se realize. Mas Deus coloca pessoas certas que são como anjos guardiões e Ele te colocou como o guardião da história tão trica e preciosa que e a dos transportes.
    Obrigado

  3. Michel Silva disse:

    Fico feliz de saber q existem pessoas q cuidam desses veiculo dessa forma.O q me dói e ver tanto ônibus q poderiam está em boas condições e estão abandonados com os que estão no pátio da Guido Caloi na Zona Sul

  4. Paulo Gil disse:

    Amigos, boa noite

    Presente desde a 1a VVR, estive na VVR-2012 sábado e domingo.

    Foi um show!

    PARABÉNS a todos, em especial ao Kaio.

    Att,

    Paulo Gil

  5. Maurício disse:

    Muito bacanas os desenhos. Sou, sempre fui e sempre serei fã dos Ciferal Dinossauro. Quando criança, quando viajava com minha família, ao pararmos em um posto de eira de estrada, ficava olhando o Dinossauro. Ninguém ensinou o que devemos gostar: Gostamos e pronto !

  6. ATTILIO F. PELLICCI disse:

    BOA NOITE
    TENHO UM CMA 1992, FLECHA II, 6412, GOSTARIA SE POSSIVEL DE UMA INFORMAÇÃO: QUAL A FORMA, TINTA OU MODO QUE DEVO FAZER, PARA OBTER A PINTURA IGUAL DA PARTE DE BAIXO DO 7500, TANTO NA CHAPA DE ALUMINIO , QUANTO NOS PARA-CHOQUES? OBRIGADO. ATTILIO F. PELLICCI

  7. Lopes disse:

    O Flecha sem dúvidas o melhor de todos os tempos, andei muito nesses ônibus quando criança, e era o único que eu conseguia sentar na poltrona e dormir tamanha era a confiança na máquina e nos motoristas da Cometa, parabéns pelas relíquias, principalmente o Flecha Azul, Flechão como era carinhosamente chamado pelo pessoal da Cometa onde moro e acho que em muitos outros lugares…

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