Tradutor na Argentina prova a força humana do ônibus, muito mais que um veículo, um agente na sociedade

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Algo cultural na Argentina e que chamou a atenção do viajante urbano Daniel Turnnad foram os próprios ônibus. Há veículos operados por empresas mais profissionalizadas e outros por companhias menores, muitas vezes, com o dono da empresa sendo o próprio motorista. A diversidade de cores dos veículos, todos enfeitados também chama a atenção. Foto: Daneil Turnnad.

Inglês conhece Buenos Aires andando em todas as linhas de ônibus da cidade
Façanha rendeu livro e provou que o ônibus, muito mais que transporte, é um espaço de convivência

ADAMO BAZANI – CBN

Todos têm a noção, mas nem todos se dão conta.
Os ônibus, sejam urbanos ou rodoviários, não são meros veículos, mas agentes sociais.
Eles ligam as pessoas ao trabalho, ao estudo, ou seja, à perspectiva de um futuro melhor, aos serviços, como de saúde, e são importantes até para quem não anda de transporte público e não deixa seu carrinho popular ou carrinho de luxo por nada neste mundo.
Se você é dessas pessoas, imagem se todos no mundo fossem iguais a você. Iam ser mais centenas de carros congestionando o seu caminho e poluindo mais ainda o seu ar.
As janelas dos ônibus são janelas para o mundo. Delas é possível ver a arquitetura das cidades, que revelam história, a riqueza, a miséria, o belo, o feio, a natureza ao longo das estradas, e a degradação ambiental.

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O inglês Daniel Turnnad decidiu fazer algo inusitado e interessante. Sabendo da força de unir pessoas de diversas realidades, o tradutor, que mora há 13 anos em Buenos Aires passeou por todas as linhas da cidade e pode presenciar vários mundos dentro do município. Foto: Daniel Turnnad.

O ônibus é um espaço de convivência, mesmo sem interação direta, às vezes. Neste mágico veículo estão pessoas do bem, pessoas do mal, trabalhadores, estudantes, pessoas com melhor renda, pessoas na pobreza, religiosos, ateus, enfim, tipos humanos.
Vendo a riqueza do ônibus, e querendo conhecer melhor a cidade onde mora já há treze anos, o inglês Daniel Turnnad decidiu por em prática uma façanha que já tinha em mente: andar nas 140 linhas completas dos coletctivos de Buenos Aires.
A aventura durou 7 meses. Por duas vezes na semana, ele viajava 11 horas de ônibus urbanos. No total, Daniel Turnnad percorreu com os colectivos, 13 mil quilômetros.
Ele percebeu que a Argentina era muito mais que a Casa Rosada, os estádios de futebol e os pontos turísticos clássicos.
Há mundos em Buenos Aires muito além do centro da capital e do bairro nobre onde mora, Belgrano.
Em 2009, Daniel tentou fazer a mesma experiência, mas depois de sete viagens, achou a atividade chata e exaustiva.
Mas sua iniciativa inicial chamou a atenção da mídia, o que o motivou a pegar firme no projeto que batizou de Colectivaizeishon, em setembro.
Além de interagir com as pessoas, espontaneamente, ele passou a ser um observador mais atento dos ônibus.
Parte dos veículos de transportes coletivos em Buenos Aires já é um espetáculo e revelaculturas do passado e da atualidade. Alguns serviços ainda são operados pelos donos dos próprios ônibus, veículos simples e predominantemente coloridos. Outros já fazem parte de empresas profissionais, com ônibus mais novos.
Daniel, que é tradutor, teve contato com diversas realidades, passou por bairros nobres e por favelas.
Nelas, ele pode derrubar vários mitos, como de que favela é local de violência apenas. Apesar das situações precárias, também são lugares marcados por pessoas alegres.
“Terminei achando a cidade muito menos violenta do que eu costumava pensar. Eu senti medo algumas vezes, por meus temores, minha própria imaginação, mas nada me aconteceu” – disse Daniel que além de escrever o livro, mantém um Blog e colunas nos jornais La Razón e Argentina Independent.

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Bairros tradicionais e locais impressionantes de Buenos Aires podem também ser vistos pelas janelas dos ônibus urbanos. Foto: Daniel Turnnad.

Uma coisa que chamou a atenção do tradutor foram os santos e enfeites que os motoristas penduram nos ônibus, deixando-os como parte da cultura local.
A saga de Daniel Turnnad deve continuar dentro dos ônibus e mais viagens devem ser feitas apesar de todas as linhas terem sido percorridas: é que deve surgir um filme sobre as viagens.
O blog de Daniel pode ser visto no seguinte link:

http://danieltunnard.blogspot.com.ar/2012/04/idiot-who-really-did-take-all-buses-in.html

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Os transportes em alguns pontos de Buenos Aires mantém características bem típicas do começo dos serviços, quando as pessoas pegavam os veículos fora dos pontos e até no meio das ruas, segundo Daniel Turnnad.

Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes.

Comentários

Comentários

  1. Gustavo Cunha disse:

    Bom dia.
    Bela matéria. Na Argentina, ainda existe espaço para um certo romantismo.
    1. Não demora e vai surgir a padronização de cores e o monopólio;
    2. Lá, o transporte público em geral, deve ser sinônimo de democracia e interação social.
    Abraço.

  2. Delícia… delícia… assim você me mata…

  3. Bruno Quintiliano disse:

    Sempre que possivel eu faço um caminho diferente, pra conhecer novos lugares, por linhas diferentes. Mas São Paulo é muito maior. Só as linhas municipais são mais de 1000 e mudam sempre.

    1. Bruno Quintiliano disse:

      Mas o mais legal é quando pessoas que pegam o mesmo ônibus todos os dias e que só tem em comum o mesmo trajeto na mesma hora começam a fazer amizades. Já participei até de café da manhã numa situação dessas. É o espaço público ganhando função, deixando de ser só lugar de passagem.

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