Motoristas de ônibus criam kit incêndio por causa de onda de ataques a coletivos

incendio

Ônibus urbano parado em ponto final à noite na cidade de Santo André. Série de ataques a coletivos tem despertado medo na população em especial nos motoristas e cobradores de ônibus. Alguns criaram kits incêndio, com documentos presos ao corpo, para escaparem mais rapidamente dos veículos sem perderem a documentação e não terem dor de cabeça. Na permanência da reportagem num veículo, rádio do motorista tocava alertando para mais um incêndio que ocorria distante, na zona Sul de São Paulo. Informação é arma da categoria. Foto: Adamo Bazani.

Motoristas de ônibus criam kit incêndio por conta de ataques a coletivos em São Paulo
ViaSul retirou ônibus de circulação da capital paulista depois de ataques
ADAMO BAZANI – CBN
Toca um sinal de rádio.
Eram por volta das nove e quinze da noite desta quarta-feira.
“Chapa, chapa, atenção….mais um na zona Sul”
A mensagem tratava-se de um alerta que um motorista de ônibus da Capital Paulista dava a um colega que estava parado no ponto final de um a linha em Santo André.
Este repórter voltava de um tratamento médico quando ao final da viagem foi se despedir do motorista, conhecido já de um tempo, e foi surpreendido com o alerta.
“É sempre assim quando tem estes ataques. Todos nós ficamos com medo”.
Poucos minutos depois, parou um ônibus da mesma empresa, mas de outra linha no ponto final.
O motorista saiu correndo e falou para o colega “Ta sabendo da Via Sul?”.
O profissional se referia a empresa que estaria recolhendo alguns ônibus antes do previsto pelo medo dos motoristas em relação aos ataques que são uma tentativa de uma facção criminosa de São Paulo, que teve origem em presídios.
Desde a noite de terça-feira até o fechamento desta matéria, doze ônibus foram queimados na Capital e na Grande São Paulo, e desde o dia 12 de junho, sete policiais militares foram assassinados.
A ViaSul, uma das empresas vítimas dos ataques, restringiu as operações em 43 linhas, afetando inclusive os serviços no Terminal Sacomã, na Capital Paulista,
O clima é de medo entre os motoristas.
“Bandido fica livre pra queimar ônibus e matar policial. A gente que é trabalhador é que tem medo” – disse o cobrador do segundo ônibus no ponto final.
A reportagem apurou que os motoristas de ônibus têm feito uma espécie de kit incêndio.
Trata-se de pochetes e ou pequenas bolsas presas ao corpo, mesmo com o motorista ao volante trabalhando.
Nelas, o essencial: documentos pessoais, carteira de habilitação (que é o ganha pão do motorista) e telefone para contato com a família.
“Eu uso essa pochetizinha porque se vir vagabundo querer botar fogo, eu saio correndo e não fico no prejuízo. Vão que não dá tempo de pegar os documentos” – disse um dos motoristas.
“Eu também tou com todo os documentos aqui nesta sacolinha” – disse o outro profissional se referindo a uma embalagem plástica que ele tinha sob a camisa.

CLIMA DE MEDO:

Se dirigir ônibus urbano em São Paulo ou na Grande São Paulo já é estressante e perigoso, por conta do trânsito complicado, em regiões onde o poder público não dá prioridade aos transportes coletivos, por causa de assaltos ou da fúria dos outros motoristas (alguns “pais de família” dirigem armados), agora, nestas épocas de instabilidades na segurança pública, os profissionais do setor vivem um clima de medo, que foi presenciado pela reportagem.
E, se a polícia deveria trabalhar com mais informação para evitar muitos dos ataques, usando seus setores de inteligência, justamente a informação é uma aliada dos motoristas.
Foi criada uma espécie de rede entre alguns profissionais de diferentes empresas, de maneira informal, para tentarem saber do que está ocorrendo.
Para isso são usados celulares, rádios e até os telefones das garagens de onde são feitas ligações para estabelecimentos comerciais perto do ponto final.
Até o fechamento desta matéria, ninguém havia se ferido com gravidade nos ataques a ônibus.
“Mas pode acontecer. Vai que o cara está noiado (drogado), sem noção e começa queimar com gente dentro” – disse o cobrador.
O ponto final onde ficou a reportagem é relativamente seguro: bairro residencial, ao lado de uma padaria e, mesmo sem ter aparecido nenhuma viatura da polícia, ao menos vigilantes de rua particulares passavam com motos.
Mas em pontos finais onde as regiões são mal iluminadas, menos movimentadas e mais desertas, os ônibus nem param, mesmo tendo de cumprir horário.
E mais uma vez, o trabalhador, seja motorista, cobrador ou passageiro, fica acuado frente a queda de braço não só entre uma facção criminosa e o Estado, mas a uma situação que envolve muito mais que polícia e bandido.
Coincidentemente (ou não), mais uma onda de medo ocorre em época eleitoral em São Paulo.
Incompetência e fragilidade do Estado? Claro, senão os trabalhadores não teriam medo.
Mas é ingenuidade pensar que tais facções criminosas não possuem contatos com pessoas envolvidas na política.
Afinal, crime não compensa, mas dá voto e dinheiro.
Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes.

Comentários

Comentários

  1. Perfeita reportagem..falou tudo o que tava aqui na garganta!!

  2. willian disse:

    “Bandido fica livre pra queimar ônibus e matar policial. A gente que é trabalhador é que tem medo”

    Vou ser bem sincero, é um grupo de criminosos a favor de um certo partido que não tem nenhum escrupulo de chegar ao poder em SP. Quer mostrar que esse atual governo é ”fraco”.
    O problema é que voce tem que respeitar as leis, e o código penal ultrapassado. Que o governo federal nem se importa em atualizar [ e quando atualizar vai aliviar a barra dos bandidos, tenho certeza]

    Não adianta encher as ruas de policiiais porque os bandidos são ousados, atiram sem piedade. Se um policial atira em um criminoso, a mídia doente diz que ele é um assassino, que o ”estado” executa ”inocentes”. Inocente não deveria estar com arma na mão cometendo crime…

    Tenho medo, motoristas, cobradores e o povo em geral está refém dos marginais. Ontem presenciei um tiroteio, estava dentro de uma lotação, quase o marginal entra nela e nos faz reféns. Tá dificil de suportar este país chamado Brasil.

    Voce não pode ter coisas boas, um carro ou uma roupa,ou tenis, celular e camera diigital nem pensar. sai as ruas com medo, até panico, desconfia de qualquer mal encarado que cruze seu caminho.

    Só Deus pra nos proteger.

  3. Todos os comentários aqui são verdadeiros e expressam a sensação que o povo está passando.

    Quando vemos o noticiário, já nos abalamos. Mas ao presenciar a situação daqueles motoristas, do cobrador e dos colegas no rádio e no celulares, deu para ter uma dimensão a mais do problema, que ainda nem chega aos pés de quem opera em linhas perigosas.

    A reportagem foi um retrato do que vi, uma infima parte do que ocorre nas ruas e não serve apenas para comentar da segurança de motoristas e cobradores, mas de todos nós cidadãos.

    Seres humanos que os direitos humanos pouco se importam

  4. NERCILIO disse:

    Só pra complementar, a Transportadora Benfica recolheu mais cedo, cheguei no Terminal Diadema às 23:30 e não havia nenhum onibus, o fiscal informou que só a Mobibrasil estava operando.

  5. João Soares disse:

    Quero usar este espaço para fazer uma reclamação do bilhete magnético dos ônibus de Diadema, o chamado Cartão SOU Diadema. Ao ser implantado, a promessa era permitir ao usuário de ônibus de Diadema que fizesse baldeação gratuita entre linhas municipais de Diadema fora dos terminais em até 50 minutos após o 1º uso. Mas na prática não é bem assim que funciona. E eu descobri isso da pior forma: pagando duas passagens.
    Eu embarquei no ônibus da linha 39DP, sentido Term. Piraporinha, e desci no cruzamento da Av. Piraporinha com a Av. Dr. Ulysses Guimarães, onde existe uma ECO (estação de conexão), onde eu embarquei na linha 24DP, que passaria na Vila Nova Conquista, onde eu moro. Ao passar o cartão, cobrou de novo! Ao questionar a motorista (o carro não tinha cobrador) sobre a nova cobrança, ela não soube explicar o motivo, e sugeriu que eu fosse à loja do SOU, ou ligasse no 0800 (08007712346). Ao ligar no 0800, a pessoa que me atendeu informou que a integração só vale se o 2º ônibus for da mesma empresa. E que como eu usei um da Mobibrasil (39DP) e outro da Benfica (24DP), então houve a dupla cobrança.
    Eu protestei, falei que não havia lógica, pois os dois empresas operam no mesmo sistema municipal, e que em São Paulo são mais de 40 empresas e nove regiões diferentes, mesmo assim o Bilhete único de lá funciona em todas. E que eu me vi prejudicado, em vez de beneficiado pelo sistema. Então, a atendente falou que levaria a reclamação até a sua chefia. E eu venho por meio deste espaço protestar contra isso, e espero que com a ajuda dos usuários deste site consigamos alguma solução para esse caso.

  6. márcio luís barbosa machado disse:

    colocar aspecto politico aqui me parece irresponsavel , mas se considerarmos ele , o eleitor de sp não tem a quem recorrer , tem de um lado os aliados de bandido , do outro , o lado que não consegue segurar os mesmos , ta absolutamente perdido então , creio haver certo exagero ai , ninguem ganha eleição assim

  7. Só pra lembrar: aposto que não terá UM ÚNICO ÔNIBUS SEQUER queimado do CONSÓRCIO LESTE 4, especialmente da NOVO HORIZONTE nem das coopers filiadas à TRANSCOOPER… Sabem porque né? rs rs

  8. Márcio, respeito sua opinião e aqui o espaço é democrático e aberto. Mas que tem político com ligações (algumas já detectadas por investigações tanto da Polícia Federal, como dos Ministérios Públicos) existe sim.
    Não cabe a mim dizer aqui quem são. Sabe que neste país, processado é o jornalista e não o criminoso. Mas um simples “Google” pode responder suas dúvidas.
    Ninguém ganha eleição assim, como ninguém deveria ganhar eleição desviando recursos, e acontece.
    Abraços

  9. Felipe Novaes disse:

    Lamentável ter que se chegar nessa situação…. mais uma ótima reportagem, Adamo!

  10. Bandidos a serviço de partido de oposição que quer chegar no poder a qualquer custo… por favor, não transformem o blog nos comentários do uol. A segurança pública está falida e o governo não está nem aí (não são só os transportes públicos que estão negligenciados). Policiais que saem por aí matando desnecessariamente (ele não é juiz, pra isso existe o judiciário) e com o apoio dos datenas da vida abrem espaço pra truculência e para que maus policiais se sintam acima da lei. as investigações já apontaram envolvimento de pms em algumas das chacinas, a estrutura dos órgãos de segurança pública precisam ser revistas, a ditadura já acabou.
    Sobre o assunto, vale a pena ler sobre a teoria das janelas quebradas, a polícia deve prevenir o crime e não sair por aí matando se não for extremamente necessário. Leia também livros como o rota 66.

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