História

HISTÓRIA DOS TRANSPORTES: Auto Viação Nossa Senhora da Luz

Nossa Senhora da Luz

Monobloco Mercedes Benz da Auto Viação Nossa senhora da Luz. Traje de Pedro Jatva, cobrador, mostra o asseio com que os funcionários de transportes se apresentavam na época, mesmo com ônibus tendo de enfrentar ruas de barro e atoleiro. Foto: Coleção Pedro Jatva – Acervo: Adamo Bazani

Da união na dificuldade à modernidade
Empresa operadora do sistema de Curitiba, que é referência mundial em transportes por causa do BRT, nasceu num dos momentos de maior dificuldade do setor em Curitiba

ADAMO BAZANI – CBN

Os transportes coletivos de Curitiba, no Paraná, são considerados exemplos de qualidade de prestação de serviços por causa do BRT (Bus Rapid Transit), sistema de Corredores que permitem trânsito rápido de ônibus que oferecem uma série de vantagens: conseguem atender a uma boa capacidade de passageiros, por serem espaços segregados em corredores para ônibus, os veículos de transporte coletivo não só ganham em velocidade, mas como em tamanho e conforto. Ônibus articulados e biarticulados, desenvolvidos pela indústria genuinamente nacional, podem substituir não só vários carros de passeio, mas como outros ônibus que deveriam ser menores por ocuparem espaço comum na cidade e por terem de dividir a via com carros, caminhões motos, etc. Embarque no mesmo nível entre a estação do corredor BRT e o assoalho do ônibus e a possibilidade de pagamento da passagem antes da entrada no veículo garantem acessibilidade e maior velocidade operacional. Tudo isso, a custos bem menores que outros modais e obras mais rápidas.
Mesmo tendo de se expandir e a cidade pensando em um Metrô, o sistema de ônibus de Curitiba é ainda referência para a implantação dos mais modernos em todo o mundo e que recebem aprovação da população e não consomem recursos exorbitantes. Colômbia, México, Estados Unidos, Chile, África do Sul, Panamá, Equador, entre outros países são exemplos de que o BRT, apesar de ser concebido nos anos de 1970, é moderno e solução para vários problemas de mobilidade. Talvez não a única solução, mas dar preferência a ônibus em corredores que compreendem acessibilidade e modernidade é algo lógico.
O sistema de ônibus expressos no Brasil surgiu em 1974, por Jaime Lerner, arquiteto, urbanista, que pensou em uma cidade não apenas para ônibus, carros, avenidas, viadutos e elevados, mas para pessoas.
Com o tempo, as inovações foram incorporadas ao BRT, o que faz do sistema hoje, interessante para a realidade de muitas cidades brasileiras. Praticamente metade das cidades que vão fazer as obras para a readequação para eventos como Copa do Mundo e Olimpíadas, com os recursos do PAC – Programa de Aceleração do Crescimento, da Mobilidade optaram pelo BRT.

Nossa Senhora da Luz

Ônibus da Auto Viação Nossa Senhora da Luz em rua de terra. Hoje Curitiba, com o bem sucedido BRT, é modelo mundial de qualidade em transportes. Mas nem sempre foi assim. Nem todos os ônibus conseguiam cumprir seus horários com periodicidade confiável, principalmente nos dia de chuva. Foto: Coleção Pedro Jatva – Acervo: Adamo Bazani

Mas antes deste sistema de ônibus existir, os transportes em Curitiba eram bem longe de serem considerados ideais.
Ruas sem asfalto, itinerários difíceis e muita demanda para pouco ônibus eram a realidade da Capital do Paraná.
De acordo com histórico da Urbs, que é a empresa que gerencia os ônibus da RIT (Rede Integrada de Transporte), de Curitiba e região Metropolitana, em 1960, a cidade tinha 360 mil habitantes, dos quais, 143 mil 100 usavam ônibus todos os dias. Ou pelo menos tentavam. Havia 56 linhas e 2 mil 250 veículos, mas apenas 156 rodavam regularmente, com cumprimento mínimo de horários.
O restante, em dias de chuva, por causa de quebras devido ao viário ruim, desmoronamentos não tinham um horário e uma periodicidade confiáveis.
Os transportes eram operados, nesta época, por 14 empresas de ônibus.
Uma boa parte, por pequenos empresários e famílias que aos poucos iam crescendo no setor.
Algumas destas empresas nasceram de transportadores autônomos.
Foi o caso da Auto Viação Nossa Senhora da Luz.
A empresa, das famílias Silvério, Krüger,e Zappelini, foi estabelecida em 1955, no dia 1º de setembro depois da união de donos de lotações, pequenos veículos de transportes coletivos.
A empresa cresceu junto com Curitiba. À medida que a demanda ia aumentando, os donos se profissionalizavam, deixavam a função de dirigir e cobrar para administrar.
A Nossa Senhora da Luz acabou presenciando boa parte da evolução dos transportes que depois se tornariam modelo.
E quem participou de parte deste processo foi o cobrador Pedro Jatva, hoje aposentado.
Ele trabalhou na Nossa Senhora da Luz nos anos de 1970.
Antes mesmo dos ônibus expressos de Curitiba, cujas empresas foram se adequando ao sistema aos poucos, a Nossa Senhora da Luz já não era mais formada por lotações: Monoblocos Mercedes Benz , ônibus possantes da FNM – Fábrica Nacional de Motores, carrocerias Nicola, hoje Marcopolo, fizeram parte da empresa de ônibus que marcou as evoluções do dia a dia do curitibano.

Auto Viação Nossa Senhora da Luz

De uma união entre donos de lotação a uma frota moderna já nos anos de 1970. A Auto Viação Nossa Senhora da Luz acompanhou e soube aproveitar o crescimento populacional e econômico de Curitiba. Foto: Coleção Pedro Jatva – Acervo: Adamo Bazani

Pedro Jatva diz ter alcançado várias conquistas: o orgulho de seu trabalho, ver Curitiba crescer e ter um dos melhores sistemas de ônibus do Brasil e também de seu filho seguir o mesmo ramo.
Pedro César Jatva, que também trabalhou em supermercado, foi cobrador de ônibus, ajudou na fiscalização e hoje é um dos que coordenam o tráfego da Leblon, empresa também paranaense, que atua em Mauá, na Grande São Paulo, há cerca de um ano.
Pedro, o filho, é outro apaixonado por transportes, e reconhece que o setor, os ônibus em especial, teve e ainda tem um papel fundamental no desenvolvimento econômico e também na integração social, permitindo o contato entre diferentes classes de pessoas e o acesso ao trabalho, renda, emprego e serviços como saúde, educação e laser.
Para que Curitiba chegasse a este conceito de transportes, muita gente de coragem, com ônibus simples e robustos, enfrentaram ruas de terra, barros, atoleiros e toda a dificuldade sempre acreditando que o transporte desenvolve uma localidade e uma nação.
Os ônibus assim não foram movidos apenas por diesel (ou gasolina mesmo em épocas mais remotas), mas acima de tudo, por sonhos.
Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes

Comentários

Comentários

  1. Wesley Souza disse:

    Gostei da matéria, muito interessante, recentemente fiz um artigo sobre o VLT e o BRT, no qual cito o BRT de Curitiba, um exemplo que esta sendo seguido no Rio ..

    http://urbanamobilidade.wordpress.com/2011/10/26/vlt-ou-brt/

  2. Valeu Wesley.

    Se precisar destas imagens antigas para ilustar algo em seus textos, pode usar também, só mantendo o crédito.

    Abração e vou ler seu artigo.

  3. Pedro Cesar Jatva disse:

    Bom como vimos essa foi a pequena história de meu Pai ( Pedro Jatva ) pelo tempo
    que contribuiu com o Transporte de Curitiba, e hoje eu sigo este caminho com muito
    Amor, Carinho, Orgulho de trabalhar na Leblon, obrigado ao meu Amigo Adamo
    Bazani pelo tempo que dispos a essa Matéria ….. Grande abraço …. ficou ótimo …

    1. nelsonmartins de oliveira disse:

      olá,sou neto de nelson de oliveira que trabalhou na viação nossa senhora da luz com onibús fnm conhecido como “nelson”

  4. Pedro Cesar Jatva disse:

    Esse é meu pai kkkkkk

  5. Roberto SP disse:

    Adamo aorei essa matéria, quero aqui parabenizar e agradecer ao Pedro e seu pai pelo excelente acervo de fotos, rever um Nicola sobre chassi FNM é sensacional, além disso a história é tudo pra entender o que existe hoje, acho de extrema importancia matérias como estas para que as novas gerações tenham fundamentos, pois as vezes nos pegamos em discussões acirradas sobre um modelo de sistema (BRT,VLT) assim como modelos de carrocerias sem dar conta que tuo que temos hoje é de fato uma evolução de um pasado recente. Enfim quero aqui também dizer que estava com saudades de matérias como esta, sem mais forte abraço
    *PS. Adamo você está alguma coisa sobre a possível venda do Expresso Brasileiro para o Grupo Santa Cruz?

  6. jair disse:

    Amigos
    A historia mostra a evolução ocorrida e que alguns teimam não compreender:
    O metro nada mais é que um trem colocado em espaço idealizado para operar modernamente
    O corredor de onibus é um onibus colocado em espaço idealizado para operar modernamente
    o VLT é um bonde moderno podendo ser articulado ou biarticulado
    o onibus também modernizou e pode ser articulado ou biarticulado
    e assim por diante, basta acompanhar a evolução tecnologica e aplicar com inteligência para atender as necessidades da população, que também aumentou em quantidade e necessidades especificas.
    E é com trabalhos apaixonados como o do nosso amigo Adamo que podemos viajar no tempo e no conhecimento atualizado dos meios de transportes dos quais gostamos
    abraços

  7. Gustavo Cunha disse:

    Boa tarde.

    A matéria é um belo, gostoso e saudoso retrato, do pioneirismo de alguns que, ajudaram a construir o nosso hoje.

    Que estas histórias sirvam de exemplo, para o amanhã.

  8. Obrigado pessoal pelos comentários.

    Realmente muitos acirrados e que se fascinam com rtecnologia, e têm todo o direito disso, sequer tem uma base histórica para entenderem o valor dos transportes na evolução n
    ao só econômica, mas do ser humano também.

    Se hoje debatemos BRT e VLT, é porque muita gente como o senhor Pedro e tantos milhares enfrentaram dificuldades, mais fizeram que falaram e venceram, ajudando a modernização das cidades.

    O que eles nos ensinam?

    Os transportes no fundo são atividades simples, mas devem ser bem feitas.

    Sem a tecnologia de hoje, muitos ajudaram a desenvolver muito mais suas cidades que atualmente todos os aparatos cercados de discursos políticos.

    Como disse o Roberto, é pelo passado que entendemos o presente.

    Vamos olhar um pouquinho para trás e vermos que transportar é a arte de servir as pessoas com simplicidade, mas com dedicação e qualidade.

    1. Roberto SP disse:

      Assino embaixo e como sempre digo “ÔNIBUS TAMBÈM È HISTÒRIA” e nada melhor para entender o presente e melhorar o futuro é realmente ver em exemplos de vida como as descritas na matéria para entender os fundamentos.

  9. Hipólito Rodrigues disse:

    Ádamo,

    Como muitos aqui sabem, há seis meses saí de São Paulo-SP (região da Área 4) e fui morar em Curitiba. E embora tenha suas deficiências, o transporte em Curitiba realmente é um ótimo exemplo a ser seguido por grandes cidades do Brasil e do mundo, além de ser um alternativa muito mais barata e rápida de implantar do que transporte sobre trilhos. Atualmente, está em pauta aqui em Curitiba a implantação do metrô, que será feita com recursos do PAC, e muitos urbanistas e especialistas da área de transportes estão contra esse projeto, pois será um investimento alto e que beneficiará somente uma pequena parte da população da cidade, estimada em pouco mais de dois milhões. Ao invés de implantar o metrô em Curitiba, os especialistas defendem a ampliação e a modernização do BRT, que além de ser mais rapidamente implantado e com custos menores, beneficiaria a cidade como um todo, uma vez que o BRT está espalhado por quase toda as as regiões. De fato, o sistema de Curitiba é um dos melhores, e quem utiliza o corredor Metra São Mateus-Jabaquara sabe disso.

    Abraços!

  10. wylson line disse:

    Belo trabalho, lembro da caragem dos ônibus de empresa Nossa Senhora da Luz, gostaria de
    saber como conseguir fotos dos antigos ônibus com motor fnm e o nimbus tr 2 e os furcare
    saudades daqueles ônibus que eram obras de arte. Se alguém puder me informar com quem
    eu poderia ver as fotos que a empresa tinha em seu escritorio que eram muitas, eu agradeceria.
    abraços
    Wilson

  11. GOSTARIA DE RECEBER MAIS FOTOS ANTIGAS DOS ONIBUS URBANOS FNM QUE RODAVAM CURITIBA NOS 60 A 70.

  12. Ciro Santos disse:

    Olá a todos e parabéns pela matéria. Tive o privilégio de crescer na Curitiba dos anos 60 e ter tido a oportunidade de conviver no meu dia-a-dia com essas “obras de arte” sobre rodas como bem disse o colega acima. Que saudades do ronco dos FNM’s logo cedinho, nas manhãs geladas, muitas vezes com cerração, quando me preparava para ir à escola. Era um verdadeiro desfile de FNM’s, MBB’s, Magirus Deutz (conheci apenas três e que pertenciam à Glória, dois Striuli e um Nicola). Não sei onde foram parar essas fotos (coisa absurda) mas pelo menos para matar as saudades criei um blog onde posto desenhos feitos por mim para retratar um pouco dessa maravilhosa época. Inclusive no Blog tem um nicola FNM como o da foto, da A.V. Marechal.
    O link para o blog é: http://memoriasbusofilas.blogspot.com.br/2012/01/galeria-de-ouro.html

    Um abraço!
    Ciro

  13. marcelo mendes matoso disse:

    a viacao lux foi o melhor trabalho que eu tive ate hoje. comessando pelo proficionalismo do encarregado sergio. e dos donos que sao. o sr carlos. a sr ilda. a sr carla papini reis e a sr rosangela.des de ja deixo aqui os meus sinceros cumprimentos com um forte abrasso.

  14. Gisiani disse:

    Bom dia, Gostaria de saber se a empresa ainda funciona e se podem me enviar um telefone de contato, pois nao estou conseguindo nenhuma informação na internet. Obrigada!

  15. Ciro Santos disse:

    Olá Gisiani, segue o endereço e telefone segundo o google: Rod br 116, 3003 – Jardim Botanico, Curitiba – PR, 82590-100
    https://plus.google.com/103564094791071225641/about?gl=br&hl=pt-BR
    (41) 3367-6317

    1. Gisiani disse:

      Obrigada, Ciro
      Vou tentar pelo endereço porque os telefones nao existem mais.

  16. Barabra disse:

    Boa noite gostaria de saber o que houve com a empresa nossa senhora da luz, ela se juntou com qual?
    Obrigado

  17. José de Souza disse:

    trabalhei de cobrador de 1968 a 1970 com 15 anos hoje tenho 70 anos meu nome Zé trabalhei na linha da Alto da XV a Vicente machado com motorista Estefano carro monobloco 146 e tambem na linha Hospital militar ao colegio militar no tarumã com o montorista Amaral .
    Meu nome é José de Souza.
    Moro em Rio Branco do Sul PR.

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