PRÓ – TRANSPORTE E O BRASIL REAL MUITO ALÉM DO VLT E DO BRT

Pró Transporte ônibus em rua de terra

Ônibus em rua de Terra. Quando se fala em MOBILIDADE, na mente de muitos sonhadores vêm logo imagens de novidades como VLT – Veículos Leves Sobre Trilhos, monotrilho, metrô sem condutor e ônibus biarticulados enormes. Mas a maior parte dos deslocamentos nas cidades é ainda feita em ônibus que, desde cidades pequenas até nas maiores, têm de enfrentar áreas de difícil aceso, muitas vezes com ruas estreitas e sem nenhum tipo de pavimentação. São regiões impossíveis de implementar trilhos e até corredores de ônibus. Sendo assim, a maioria dos deslocamentos ainda será feita por ônibus. Mas como melhorar a mobilidade das pessoas que dependem destas linhas, que são a maioria no País? Não basta trocar ônibus, já que muitas vias não permitem o uso de veículos com equipamentos de acessibilidade e mais confortáveis. Eles não conseguiriam durar muito tempo pelas más condições viárias. A solução é melhorar a estrutura dos caminhos onde passam os ônibus. E um dos objetivos do programa Pró Transporte é este. Em Campo Grande, quase 100% das ruas que recebem ônibus serão asfaltadas com os recursos administrados pelo Ministério das Cidades, advindos do FGTS. O programa também financia obras de sinalização e iluminação, além de compra de equipamentos de acessibilidade e veículos de transportes coletivos, O problema é que ele ainda é tímido frente às necessidades de mobilidade do Brasil Real.

Pró Transporte deve auxiliar Campo Grande a pavimentar todas as vias por onde passam ônibus
Programa do Governo Federal financia infra-estrutura em locais atendidos por transporte público e aquisição de equipamentos para acessibilidade e modernização do setor

ADAMO BAZANI – CBN

Enquanto muita gente se encanta com tecnologia, que realmente desperta fascínio mesmo, e exalta modais de transportes públicos caros e aparentemente inovadores, a maior parte da população ainda é transportada em ônibus que servem locais de difícil acesso.
Seja em cidades grandes como em áreas menos urbanizadas e mais afastadas dos grandes centros, os ônibus ainda enfrentam, muitas vezes em morros até, ruas de terra e sem nenhuma estrutura.
É um problema básico que fica escondido sob a fascinação dos discursos de modernidade.
Melhorar os serviços destes ônibus não depende apenas dos operadores de transportes. Há locais que não comportam veículos acessíveis, de maior porte ou mesmo mais confortáveis, já que as condições dos viários danificam os ônibus, não valendo a pena para o frotista comprar um veículo melhor (e mais caro) se este vai ser quebrado e desgastado prematuramente.
Para melhoria dos transpores, é necessário dar condições básicas para os ônibus trafegarem.
Falta de pavimentação em ruas e avenidas de bairros mais carentes é algo que faz a população deste local sequer se preocupar que existe BRT (Bus Rapid Transit), VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) ou monotrilho nas chamadas linhas troncais.
É verdade, tem gente que desembarca no centro da cidade e para ir para a casa tem de enfrentar verdadeiros desafios contra lamaçais, terra e poeira.
Muito precisa ser feito pelas autoridades em diversos níveis. No entanto, há ações pouco conhecidas que tem sim sendo realizadas. Falta ampliar estes instrumentos.
Um bom exemplo é o Programa Pró Transporte, do Governo Federal.
Em linhas gerais, o Pró Transporte, pela Caixa Econômica Federal, usando recursos do FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – é destinado a oferecer maior infraestrutura para os serviços de transportes. Serviços esses que são essenciais para o desenvolvimento economia (para a circulação de pessoas e realização de atividades) e acesso a outros serviços essenciais, como saúde, educação, lazer, entre outros.
O Pró Transporte permite financiamento para a compra de equipamentos de acessibilidade, asfaltamento e drenagem de vias onde passam ônibus, investimento em tecnologia para dinamizar os sistemas e em sinalização.
Os financiamentos podem ser para agentes públicos, como Estados e Municípios e privados, como operadores de transporte coletivo, concessionários ou mesmo permissionários destes serviços.
De acordo com a Caixa Econômica Federal, o que pode ser financiado e os beneficiados são:

A quem se destina
• Setor Público: Estados, Distrito Federal, Municípios e órgãos públicos gestores;
• Setor Privado: Concessionária de transporte público, Permissionário de transporte coletivo urbano e as SPE’s, detentores de contrato de permissão ou de autorização.
O que pode ser Financiado
São financiáveis no âmbito do Pró-Transporte as seguintes modalidades:
A. Implantação, ampliação, modernização e/ou adequação da infraestrutura dos sistemas de transporte público coletivo urbano, incluindo-se obras civis, equipamentos, investimentos em tecnologia, sinalização e/ou aquisição de veículos e barcas e afins:
B. Ações voltadas à qualificação e pavimentação de vias, inclusão social, à mobilidade urbana, à acessibilidade e à salubridade
C. Obras e serviços complementares e equipamentos especiais destinados à acessibilidade, à utilização e à mobilidade de idosos, pessoas com deficiências ou restrição de mobilidade, voltados à prevenção de acidentes.

A contrapartida por parte do beneficiado deve ser de no mínimo 5% do valor financiado.
O valor dos estudos e projetos de concepção, que devem já estar inclusos na proposta de financiamento, não pode ultrapassar 1,5% do valor do investimento.
Os frutos do Pró Transporte começam a aparecer de forma mais notória em algumas cidades, como em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.
A Prefeitura de Campo Grande estima que até o final de 2012, todas as ruas da cidade que recebem linhas de ônibus devem estar asfaltadas.
Os recursos são justamente do programa do Ministério das cidades e devem beneficiar 28 bairros.
Como as obras contemplam também drenagem, a Prefeitura acredita que com as ruas de linhas de ônibus asfaltadas e com dutos para escoamento de água será mais fácil pavimentar com recursos próprios as demais ruas onde não passam os ônibus.
Isto porque, parta atender aos requisitos do programa, a obra não deve apenas asfaltar a linha de ônibus, mas criar uma estrutura viária acima de tudo, o que vai refletir em outras ruas.
Os dutos de drenagem vão ser instalados para que não haja inundações nas ruas onde passam ônibus, mas para isso, será necessário drenar toda a região em volta, o que vai criar a estrutura para a continuidade dos projetos de pavimentação.
No Rio Grande do Norte, o Programa Pró Transporte destinou R$ 72 milhões para melhoramento de corredores de grande tráfego, colocação de novos abrigos de ônibus e modernização de estações ferroviárias.
O programa vai financiar também a integração do transporte por ônibus e ferroviário na zona Norte de Natal.
A obra da Ponte Forte Redinha vai ser ampliada para receber a demanda maior de carros e pessoas do aeroporto de São Gonçalo do Amarante, segundo município mais antigo do Rio Grande do Norte.
As avenidas Moema Tinoco, Tocantínea e Rio Doce serão duplicadas, e as avenidas João Medeiros e Tomás Landin passarão por obras de melhoramentos.
Ainda a avenida João Medeiros Filho ganhará viadutos sobre as linhas de trem, o que também deve ocorrer na Avenida das Fronteiras.
As estações ferroviárias também vão ter passarelas modernizadas e facilidade de integração com os ônibus.
Alguns municípios e operadores particulares se queixam, no entanto, das dificuldades que ainda existem para receberem os financiamentos do Programa Pró Transporte.
Eles reclamam do tempo de carência entre a obtenção do crédito e a execução das obras ou compra de veículos e equipamentos.
Vale ressaltar, porém, que vários especialistas em mobilidade destacam a importância do Pró Transporte.
O problema é que uma ação como esta deveria ser mais ampla num país que costuma financiar carros e motos, o que vai justamente contra o conceito de mobilidade que é promover o deslocamento dos cidadãos de forma fácil e sustentável, respeitando o meio ambiente. E para isso ser possível, só mesmo pelo transporte público.
Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes.

Comentários

Comentários

  1. Gustavo Cunha disse:

    Boa tarde.

    Sinto-me à vontade, para comentar sobre o tema, pois convivo com cidades próximas, de onde estou que, se encaixam no perfil do tema posto. Creio, nestes lugares, como noutros, que, o poder público (Prefeituras e etc.) e empresas de ônibus, precisam deixar o constante “conflito” de lado e unirem esforços, para superar os obstáculos, na operação diária.

    Certa feita, visitei uma empresa da RMSP, instalada em uma cidade, com viário MUITO RUIM, além de outras necessidades. Esta empresa, mantinha uma equipe de funcionários e, caminhão basculante, trator, motoniveladora e máquina de rolo compressor, para fazer a manutenção, pelo menos do viário, componente de suas rotas.

    O que ela ganha com isso ?

    Supera seus próprios obstáculos e, mantêm-se firme, na prestação do serviço ao, CIDADÃO !

    Abçs.

  2. A Talismã faz consertyo de vias em suas linhas com rtecursos próprios em Rio Grande da Serra.

    1. Gustavo Cunha disse:

      Adamo, boa tarde pro cê !

      Mais um exemplo !! Muitos de nós, em muitas ocasiões, criticamos e com razão, empresa A, B e C, pelos serviços prestados, ou melhor, mal prestados, mas há exceções e, a Talismã é uma, como você mencionou.

      Entretanto, como eu mencionei, é preciso que, haja união de esforços entre empresas e poder público, preocupando-se menos com “cores” e “transporte coletivo de cidade tal”, como se fosse operado pela Prefeitura e, com mais preocupação / ações, na melhoria do viário, no estudo, dimensão e operação das rotas.

      Tantos amigos, já relataram aqui por vezes, casos onde as empresas operam com articulados, onde micros dariam conta do recado e o inverso também; sobreposição de linhas, enfim, toda sorte de incoerências. Será que a empresa de ônibus é a única responsável ?

      Abçs.

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