TRANSPORTES COLETIVOS PODEM SALVAR VIDAS: Não é utopia, são dados reais

Meio ambiente

Ônibus é apontado pelo Ipea como uma das soluções não apenas para mobilidade urbana, mas para a qualidade de vida e saúde pública. De acordo com estudos da USP, cerca de 3 mil mortes por ano em São Paulo e mais de 200 doenças são ocasionadas por causa EXCLUSIVAMENTE DA POLUIÇÃO VEICULAR. E para o Instituo de Pesquisa Econômica Aplicada, única solução viável para reverter o quadro é o investimento em transporte público. O crescimento da frota de carros no Brasil frente a pouca priorização dos transportes coletivos é considerada preocupante pelo potencial poluidor dos carros, que proporcionalmente poluem quase 8 vezes mais que os ônibus. Foto: Adamo Bazani.

Transporte público pode auxiliar na prevenção de 200 doenças e evitar a morte de 3 mil pessoas por ano só em SP
Dados são do Ipea e da USP sobre poluição por veículos automotores. Transportes coletivos são apontados como principais alternativas para reverter o problema

ADAMO BAZANI – CBN

Investir em transportes públicos não é uma apenas solução para a mobilidade nas cidades que sofrem cada vez mais com o trânsito caótico provocado pelo excesso de veículos, principalmente carros de passeio. Mas significa também uma medida para evitar problemas em relação à saúde pública e pode ajudar a prevenir mais de 200 doenças e poupar cerca de 3 mil vidas por ano somente na cidade de São Paulo.
A conclusão faz parte de um estudo do Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, divulgado na semana passada, no Comunicado nº 113 – Poluição Veicular Atmosférica. O trabalho, que também se baseou em outros estudos, como desenvolvidos pela USP – Universidade de São Paulo é bastante aprofundado e mostrou um panorama sobre como estão as emissões de poluentes por veículos automotores.
Logo de início, o estudo criticou veemente a política de transportes no País, ao privilegiar o deslocamento individual e não priorizar os meios coletivos.
Esta postura, segundo o Ipea, aponta para “uma tendência bastante preocupante” e resulta em dados que mostram a disparidade entre os transportes públicos e individuais.
Ainda segundo o Instituto, enquanto a frota de carros subiu 07% e a de motos teve crescimento de 15%, o uso do transporte público caiu, em linhas gerais, 30%.
E não é porque as pessoas não queiram usar os meios coletivos, como comprovou pesquisa sobre mobilidade da ONG (Organização Não Governamental) Rede Nossa São Paulo. O número de paulistanos que desejam deixar o carro em casa subiu de 50% para 62% em u ano.
Mas as pessoas querem velocidade. O tempo está cada vez mais curto com a intensificação de algumas atividades econômicas. Assim, para o transporte público ser atraente, ele dever ser veloz. E para isso, deve ter espaço exclusivo nas cidades.
E o estudo do Ipea é mais um documento que aponta que a construção de corredores de ônibus realmente segregados do trânsito de veículos convencionais é uma das soluções mais rápidas e de baixo custo, sem, no entanto, serem paliativas, quando os BRTs (Bus Rapid Transit) são bem planejados e estruturados.
Os corredores de ônibus tiram os veículos de transporte coletivo dos congestionamentos, o que significa maior velocidade operacional. Sem estarem presos no trânsito, menos ônibus fazem mais viagens, o que significa mais capacidade de atendimento e menor poluição. Além disso, por serem espaços exclusivos e com pavimento mais adequado, os corredores podem receber ônibus articulados e biarticulados que substituem até 3 ônibus convencionais. Soma-se a isso, o fato de os veículos serem menos desgastados, o que possibilita que o frotista pode comprar ônibus com mais tecnologia, conforto e menos poluentes, como movidos a biodiesel, elétricos ou elétricos híbridos, o que aumenta os ganhos ambientais.
Onde existem corredores de ônibus que conseguem tirar carros das ruas, a concentração de poluentes chega a ser menor que ruas relativamente tranquilas por onde passam apenas carros de passeio.
E isso é comprovado por números levantados pelo Ipea.
Proporcionalmente, o ocupante de um carro produz 7,9 vezes mais gás carbônico que o passageiro de um ônibus. Isso porque, segundo o Ipea, enquanto um ônibus convencional transporta 80 passageiros, a média de um carro é de 1,5 pessoa.
Em relação ao veículo, o índice de emissão de poluentes de um ônibus é 7,8 vezes menor que de um carro e 4,4 vezes menor que de uma moto, segundo ainda o Comunicado 113 do Ipea.
Os corredores de ônibus também podem incorporar outras ações ambientais com a introdução de áreas verdes ao seu entorno e com o uso de veículos menos poluentes. Exemplos brasileiros existem. Em Curitiba, no Paraná, os novos corredores são ajardinados e os ônibus movidos a biodiesel. Em São Paulo, o Corredor ABD, entre a zona Sul e a zona Leste da cidade, passando por municípios do ABC Paulista, são utilizados ônibus elétricos (trólebus) e a empresa operadora, Metra, desde 2008 realiza o Programa Corredor Verde, que já foi responsável pelo plantio de 4 mil árvores ao longo da área atendida pelos ônibus.

EMISSÕES DE GÁS CARBÔNICO POR VEÍCULO

poluição

Proporcionalmente, ônibus e metrô poluem muito menos que carros de passeio. Modais são solução para mobilidade e saúde pública.

Estes dados confirmam a necessidade apontada pelos técnicos de investimentos em transportes públicos para a mobilidade e qualidade de vida.
O número de 200 doenças e 3 mil mortes que poderiam ser evitadas com menos carros nas ruas e mais transporte público se refere apenas a problemas relacionados a poluição do ar.
Não são consideradas, por exemplo, outras doenças, como a decorrente do sedentarismo pelo uso excessivo de carros e o estresse pelo trânsito, perda de tempo, possibilidade de roubos e acidentes.

NÃO SE TRATA DE UMA CAÇA ÀS BRUXAS E AO CARRO:

O Ipea foi bastante cauteloso e responsável ao elaborar e divulgar o estudo.
O Instituto procurou deixar claro que não é necessário suprimir a indústria de veículos de passeio, que é responsável por 14% do PIB – Produto Interno Bruto – do País.
Mas há a necessidade de investir em transportes públicos para que haja uma mudança de hábito nas pessoas.
O cenário mais próximo do ideal é que os carros sejam usados em deslocamentos esporádicos, de final de semana e de lazer. As viagens diárias para o trabalho, escola e outras atividades cotidianas deveriam ser feitas prioritariamente pelos transportes públicos.
E quanto maior o investimento nos meios coletivos, com ônibus perdendo menos tempo, combustível e tendo menor desgaste no congestionamento, a tendência é de que o custo do transporte coletivo seja reduzido.
O número brasileiro de veículos por habitantes preocupa também. A relação é de 15 carros para 100 habitantes. Nos Estados Unidos, este número é de 70 carros por 100 pessoas.
Pelo ritmo histórico, em alguns anos o Brasil vai chegar ao número dos Estados Unidos.
Por isso, os investimentos em transportes devem começar o quanto antes e de maneira responsável, por modais que consigam atender a uma extensão e demanda maiores com menos uso de recursos possíveis. Assim, não adianta investir uma grande soma apenas numa linha ou em determinada região.
Apesar de alto o índice de carros por pessoas, nos Estados Unidos, os investimentos em transportes públicos evitam problemas maiores. Em Nova Iorque, por exemplo, 80% dos deslocamentos habituais em dias úteis são feitos por transporte coletivo.
Os carros de passeio hoje não poluem nem 10% do que os veículos de passeio dos anos de 1980. Mas estes ganhos ambientais foram anulados pelo aumento da frota. Há veículos menos poluentes, mas são muitos carros.
Ao apresentar o comunicado do Ipea, o técnico de planejamento e pesquisa do Instituto, Carlos Henrique Carvalho, foi enfático.
“Se hoje está ruim, no futuro estará muito pior. É preciso que o Brasil invista no sistema público de transporte e em infra-estrutura para bicicletas”, concluiu.
Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes.

Comentários

Comentários

  1. Gustavo Cunha disse:

    Bom dia.

    Recordo-me do efeito “Tostines”. Caso o cidadão opte pelo modal ônibus, evidente que, o número de carros nas ruas, diminuirá e, a velocidade, intervalo entre os ônibus do sistema, também, por não ficarem presos nos congestionamentos, como atualmente.

    O usuário não é simpático ao sistema de ônibus comum? Criemos os seletivos, diferenciados, no conforto e no preço.

    Os exemplos acima, demonstram a simplicidade das possíveis soluções.

    Implantar, isso depende mais de vontade, do que qualquer outra coisa.

    P.S.: Não nos esqueçamos de investir nos outros modais (trem, metrô) tb., porque até o ônibus
    se estrangula, sozinho.

    Abçs.

  2. alô poder público, vamos trabalhar???

  3. Caio disse:

    O verde precisa ser preservado, vamos evitar que o novo código florestal seja aprovado, vamos incentivar o apoio para a preservação ambiental.

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