OBRAS DE TRANSPORTES PARA A COPA E A IRRITANTE HIPOCRISIA DOS ENTES PÚBLICOS
Publicado em: 18 de setembro de 2011
Guadalajara vai priorizar ônibus para Jogos Pan-Americanos
Investimentos não serão altos e atenderão demanda o evento. Sistema de cartões eletrônicos deve servir de legado para a cidade mexicana
ADAMO BAZANI – CBN
Ao abrir os jornais ou sites de notícia ou especializados e ver a quantidade de dinheiro que o Brasil deve utilizar em mobilidade urbana com projetos mais voltados para a Copa do Mundo que para o cidadão, é de assustar e revoltar pelo volume de recursos que deve ser investido e também pela busca de ganho de imagem em modais e obras que vão custar muito mais caro que diversas soluções já conhecidas, que atendem ao mesmo número de pessoas, porém que dão menos notoriedade, Ibope.
São R$ 12,1 bilhões investidos nas cidades-sede da Copa.
Boa parte destas intervenções nos transportes pode virar legado para população. Outras, mesmo sendo caras, como alguns monotrilhos e VLTs, terão menos serventia depois de cada seleção mundial seguir seu rumo.
Será que para transportar torcedores para a Copa precisa mesmo de tanto dinheiro.
Guardadas as devidas proporções, mas com o mesmo objetivo, Guadalajara, no México, para sediar os jogos Pan-Americanos adotou uma medida simples, que deixa a cidade bonita e que vai consumir poucos recursos pois será apenas mesmo para atender à demanda do evento esportivo.
A solução todos conhecem: o ônibus. Mas com um detalhe. Foram estudadas as rotas que serão mais usadas pelos torcedores, delegações, imprensa e demais envolvidos nos jogos e nas vias mais largas já têm sido pintadas faixas coloridas, com o símbolo dos jogos Pan-Americanos, por onde devem circular exclusivamente os ônibus.
A medida será adotada agora no início de outubro.
Com cartões eletrônicos de identificação, a título de testes, voluntários e integrantes da força-tarefa de organização do evento, vão se deslocar gratuitamente pelas faixas.
INVESTIMENTO SEM HIPOCRISIA:
A medida de Guadalajara tem uma diferença em relação a algumas obras brasileiras voltadas para a Copa. Ela não é hipócrita.
A ação de Guadalajara não é para a mobilidade urbana de toda a população. É declaradamente pontual para os jogos Pan-Americanos, em compensação não vai gastar demasiados recursos como no Brasil.
No Brasil, em nome do deslocamento da população, têm sido elaborados projetos que visam mesmo a Copa e são caros demais.
Não seria mais justo gastar menos o que é só para a Copa, uma demanda muito limitada frente ao dia a dia das necessidades dos municípios, e aí sim, investir pesado em meios de transportes e projetos sérios em itinerários que realmente são usados pelos cidadãos?
Afinal, qual a utilidade de um monotrilho, por exemplo, que sai de um aeroporto e para num estádio? Tanta utilidade que, no caso do Monotrilho que sairia do Aeroporto de Congonhas e iria até o estádio do Morumbi, ele caiu para segundo plano depois de a Fifa ter rejeitado o estádio de São Paulo.
De duas, uma: Ou os investimentos são pensados só para a Copa e como o Morumbi não será mais sede de jogos, o monotrilho perde importância ou então, de fato, haveria outras ligações com muito mais necessidade que a desta obra que vai consumir, pelo menos R$ 3 bilhões. O monotrilho é caro frente ao benefício e número de passageiros que ele vai atender se comparado com um corredor de ônibus moderno e rápido, como os BRTs (Bus Rapid Transit), ou com um metrô de verdade.
Para os torcedores e visitantes dos jogos de Guadalajara, a passagem de ônibus, por bilhete eletrônico custará 6 pesos (menos de R$ 1). A LÓGICA É SIMPLES: TRANSPORTE DE IMPLANTAÇÃO E OPERAÇÃO BARATAS, TARIFAS BAIXAS TAMBÉM.
Os ônibus para os torcedores vão operar das 06 h às 23 h.
E mesmo sendo uma ação não hipócrita só para o evento esportivo, ainda sim pode deixar um legado para a mobilidade de verdade dos cidadãos.
Em Guadalajara não há bilhetagem eletrônica, como São Paulo. Se o sistema der certo, este tipo de cobrança deve ser oficializado nos ônibus e depois integrado com outros sistemas de transportes.
É um exemplo, guardadas as proporções de novo, de uma cidade que vai abrigar um evento esportivo e não vai precisar esbanjar dinheiro e mostra claramente o que é gasto para torcedor e gasto para passageiro diário.
É claro que as dimensões das cidades brasileiras são maiores assim como a demanda e ninguém está defendendo que se pinte faixas de ônibus nas cidades todas. Elas precisam de transportes públicos eficientes e economicamente responsáveis na relação custo-benefício, como corredores verdadeiros de ônibus e Metrô.
Mas seria interessante que as cidades deixassem de ser menos hipócritas e separassem o que é investimento para o torcedor ou para a demanda do dia a dia e priorizar os altos recursos para a maioria. Uma questão de respeito, lógica e democracia.
Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes.
Autopass ITS já funciona em quase 950 ônibus e já beneficiou mais de 5 milhões de passageiros na Região Metropolitana de São Paulo
Caso de Sucesso Viação Alpha, do Rio de Janeiro: como as otimizações da operação podem reduzir custos e atender picos de demanda de passageiros
Bom dia.
PARABÉNS ADAMO. Matéria simples, pontual e objetiva !
Respeitando opiniões diferentes, concordo contigo, em gênero, número e grau. Vou mais além e afirmo:
Esta “OPORTUNIDADE” muitos vão “APROVEITAR”, como já acontece, infelizmente.
Nosso Galesi, mencionou em post anterior que, somente a transformação do povo, pela educação, pode mudar este país e, realmente é a mais pura verdade, pois, enquanto não houver esta conscientização, muitos serão animais, conduzidos a chicote e, ainda continuaram achando graça.
Sempre é tempo de acordar, mas, quanto mais tarde ocorrer, mais difícil ficará.
Abçs.
A sociedade brasileira tem a tradicional convicção de que o futebol está no sangue do ser humano, devido a quase unanimidade dada ao mesmo em nosso país. Muitos pensam que a demanda que virá para assistir aos jogos é gigantesca, com base nesse raciocínio de que todos gostam de futebol. Eu mesmo não curto futebol e sei que esse esporte é impopular na maior parte dos países. Só virão aqui quem gosta de futebol e não são tantos quanto parecem. Além disso, televisões irão transmitir os jogos para as redes locais, o que ajudará a diminuir ainda mais a demanda que virá aqui.
Mas não tem jeito, as convicções são de que virá a humanidade inteira para o país em 2014 e as obras e a expectativa da sociedade estão sendo baseadas nisso, o que poderá resultar numa decepção e num desperdício ainda maior.
Os mexicanos foram mais realistas, apesar do possível argumento dos brasileiros de que o PAN tem demanda bem inferior ao de uma copa (que pode não ser verdade, visto a diversidade esportiva do PAN contra a copa que só tem uma modalidade esportiva apenas), racionando os gastos e privilegiando a sua população.
Ah, não esqueçamos que é tradição em nossa sociedade o hábito de “babar o ovo” dos estrangeiros, algo que sabemos não ser recíproco lá fora.
Adamo tenho a seguinte opinião a respeito das obras de mobilidade. Achei que a FIFA fez o que os Governos a mais de 20 anos não faziam , criar um compromisso de voltar a se investir em sistemas estruturais de transportes (Metrô, BRT,VLT, Montrilho, ferrovias urbanas) e o principal , de ter uma data para conclusão, assim as cidades abandonadas de investimentos de transportes públicos e repletas de investimentos e muita grana para financioar a compra de carros podem , se a sociedade assim o exigir que em 2014 voltemos a investir em transportes públicos. Primeiro foio PAC da Copa depois foi o PAC da Mobilidade Grandes Cidades que juntos somam 30 bilhões e vamos lutar para termos um PAC da Mobilidade Cidades Medias e um PAC pequenas cidades. E ao mesmo tempo podemos mostrar ao mundo cidades modernas e sustentáveis com relação a mobilidade.
Mas quanto aos estadios não tenho a mesma opinião há legados só para Copa.
abcs
E é isso que deixa-me indignado. Precisou a FIFA (uma entidade esportiva) cobrar sendo que a lição nós deverímaos fazer há muito tempo.
Meu medo ainda são obras de transportes que priorizem a região dos estádios com vultuosos recursos enquanto não se investe onde há concentrações maiores de pessoas.