EXEMPLOS DE BRTs BRASILEIROS MELHORAM A VIDA EM LOS ANGELES

BRT Los Angeles

As condições de mobilidade e de qualidade de vida de Los Angeles e Região Metropolitana, nos Estados Unidos, só começaram a mudar depois de investimentos em transportes públicos. E o modelo mais rápido, de fácil implantação e a custo compatível com a realidade foi o BRT – Bus Rapid Transit. O serviço na chamada Orange Line conseguiu tirar das ruas logo no primeiro ano de circulação, 1/3 dos carros de passeio. Los Angeles era conhecida como a cidade do SMOG, que é um tipo de fumaça que concentra poluentes diversos, a maior parte emitida dos escapamentos de carros. Com o investimento no transporte coletivo, as condições ambientais começaram a melhorar significativamente.

BRT: Um exemplo brasileiro seguido com sucesso nos Estados Unidos
Los Angeles seguiu experiência brasileira em transportes com corredores de ônibus e melhorou não só a mobilidade como a qualidade de vida em geral da população

ADAMO BAZANI – CBN

Não é problema exclusivamente brasileiro. Na maior parte das grandes cidades do mundo, por melhor que fosse o planejamento urbano, o crescimento do trânsito, da população de forma mais acentuada em algumas áreas que outras e dos índices de poluição se tornou um grande problema a ser enfrentado pelos habitantes e pelos administradores públicos.
Os espaços nas cidades se tornam cada vez mais disputados, o ar mais pesado e a vida se tornou mais difícil. Difícil a ponto de até influenciar o nível de stress das pessoas.
Os problemas são comuns a todos. Por isso, as soluções devem ser pensadas para todos, ou seja, para a coletividade.
Para que os níveis de poluição sejam reduzidos, o espaço urbano melhor aproveitado e as pessoas tenham de volta o direito de ir e vir, o transporte público é consenso.
Uma questão de lógica: um veículo de maior capacidade como o ônibus, pode tirar dezenas e até centenas de carros (e escapamentos) das ruas, ocupando bem menos espaço.
Mas é certo que não basta colocar mais ônibus nas ruas para dividirem o asfalto com os carros.
Os ônibus devem ser atraentes para que as pessoas do carro deixem seus veículos em casa.
Pesquisa revelada neste ano pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) revela o que há muito tempo especialistas levavam em consideração. O motorista do carro particular só vai deixá-lo em casa se o transporte público oferecer no mínimo o mesmo que seu veículo dá: rapidez, conforto e segurança.
Se o transporte público for priorizado no espaço urbano, ele pode oferecer, no entanto, muito mais. Além dessas exigências fundamentais, uma melhor qualidade de vida.
Em relação ao transporte por ônibus, a solução até o momento que mais apresenta resultados positivos é o BRT, sigla em inglês para Bus Rapid Transit. O BRT não é apenas um corredor de ônibus. É um sistema operacional que com o corredor apresenta maior fluidez e velocidade dos ônibus, mas que se constituiu num conceito prático que leva em conta acessibilidade, com embarque nos veículos facilitado para portadores de qualquer tipo de limitação, praticidade e segurança, com pagamento nas estações antes da entrada no ônibus, normalmente com bilhetagem eletrônica, informação, com estações e veículos bem sinalizados, inclusive com mapas, e conforto, com a lotação controlada e ônibus mais modernos e maiores.
Por trafegar em corredor, livre de buracos, curvas muito fechadas e da disputa com os outros carros, os ônibus podem ser de piso baixo, motores mais silenciosos, no meio ou atrás, de tração limpa, como elétrica total (trólebus) ou híbrida (com eletricidade mais outra forma de combustível, como Gás Natural, Etanol, Diesel de Cana ou Diesel Comum). Além disso, os ônibus podem ser articulados ou mesmo biarticulados, que os deixam com uma capacidade de transporte muito próxima a de outros modais, porém com custo e tempo de implantação menores.
Essa solução que é usada por diversos países do mundo, como Colômbia, com o Transmilênio, considerado um dos melhores sistemas de ônibus da América Latina, Chile, Panamá, Áfricas do Sul, Equador, Estados Unidos, entre outros, foi criada no Brasil.
Em 1974, o então prefeito de Curitiba, Jaime Lerner, concebeu não apenas um sistema de transportes, mas pensou numa vida urbana melhor. Para isso, priorizou a circulação de pedestres e o transporte público, criando canaletas (corredores) para o trânsito livre dos ônibus.
Nesta época, depois do Uiraquitan, modelo de ônibus projetado pela FEI, do ABC Paulista, não ter dado os resultados esperados, a Marcopolo apresentou o modelo Veneza Expresso. O Veneza era tradicional já no mercado de urbanos, mas a configuração para o corredor era diferente. A área envidraçada era maior, o espaço interno melhor aproveitado para os padrões da época, com bancos laterais e mesmo na época em que os apelos por acessibilidade e melhores condições do meio ambiente não eram tão fortes, a carroceria e o sistema de suspensão já apresentavam menor altura em relação ao solo e o motor Cummins tecnologia para redução da poluição.
O sistema foi um sucesso, mas demorou para se expandir pelo Brasil, talvez pela falta de políticas públicas em prol do transporte coletivo. Além de Curitiba, São Paulo adotaria um sistema de priorização total ao transporte público nos anos de 1980, quando em 1988, inaugurou o primeiro corredor com características metropolitanas, o Corredor ABD, entre São Mateus, na Zona Leste de São Paulo, e Jabaquara, na zona Sul da Capital Paulista, passando pelos municípios de Santo André, Mauá, São Bernardo do Campo e Diadema.
Mesmo sendo solução brasileira, o mundo acabou assimilando mais o BRT que o próprio Brasil.
Há no País, ainda necessidade e espaço para mais corredores modernos de ônibus, o que vem sendo pensado agora com a obrigatoriedade de renovação dos transportes por conta dos grandes eventos mundiais como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, mas acima de tudo pela necessidade de cidades mais agradáveis e que ofereçam o direito básico de ir e vir, o que é mais importante que qualquer evento esportivo. Afinal, com Copa ou sem Copa, as cidades não podem perder milhões de dinheiro e de vidas com o trânsito e a poluição.

O EXEMPLO BRASILEIRO NOS ESTADOS UNIDOS:

BRT Matchbox

Bons serviços mas também comunicação com a população foram essenciais para convencer o cidadão a deixar o carro em casa. O BRT de Los Angeles ficou tão popular que em 2006 foi batida a meta de passageiros prevista para 2020 e o modelo de ônibus virou até miniatura da Matchbox

Assim como ocorreu com Curitiba, em parte do ABC Paulista, em parte de São Paulo, em Bogotá, na Colômbia a implantação de um sistema de BRT pode melhorar não só os transportes, mas a qualidade de vida em Los Angeles, nos Estados Unidos.
A cidade era conhecida até os anos de 1990 pelo SMOG, que é uma espécie de fumaça resultante da mistura de poluentes, principalmente dos materiais lançados na atmosfera pelo alto número de escapamento dos carros.
Foi nos anos de 1940 que o SMOG foi descoberto. Já nesta época, a concentração de óxido nítrico (NO) e de Compostos Orgânicos Voláteis (COLs) era grande.
Por mais ruas e avenidas que fossem alargadas, o problema do trânsito e da poluição não era resolvido, a exemplo do que ocorre em cidades como São Paulo, que ainda direcionam a maior parte dos planejamentos para o transporte individual.
Em 2003, Los Angeles decidiu então investir no transporte coletivo e começou a implantar um sistema de BRT – Bus Rapid Transit.
Neste ano, a Los Angeles County Metropolitan Transportation Authority começou a unificar as empresas concessionárias dos serviços de ônibus e metrô, que passaram a exibir a mesma marca, Metro.
Houve uma completa reformulação na região metropolitana de Los Angeles, incluindo o Vale de San Fernando.
A inspiração veio dos Ligeirinhos de Curitiba, que são ônibus rápidos que ligam os principais pontos da região metropolitana com poucas paradas no meio do caminho.
O sistema do Corredor ABD, entre São Mateus e Jabaquara, atendendo parte do ABC Paulista, também foi levado em consideração. Para convencer e provar aos usuários que o ônibus garantiria conforto, segurança e maior rapidez que o uso de veículos particulares, a Metro utilizou a linha Orange Line como modelo. A linha tem 23 quilômetros de extensão e 14 paradas. Os principais conceitos de BRT foram adotados, como o pré-embarque, que é o pagamento da passagem antes da entrada no ônibus, o que aumenta a segurança e agiliza a entrada nos veículos, displays de informações para os passageiros e ônibus mais modernos e acessíveis, com três portas e piso baixo.
Além de uma boa estrutura de transportes, Los Angeles também soube se comunicar com a população para que as pessoas deixassem o carro em casa.
Um dos lemas era: O ÔNIBUS QUE FUNCIONA COMO TREM.
E outdoors com mensagens rápidas e chamativas foram colocados na congestionada Higway 101.
Além de falar ao cidadão, a Los Angeles County Metropolitan Transportation Authority também o ouviu e prolongou o horário de atendimento telefônico até a noite.
Comunicação e bom serviços combinados tiveram efeito.
No primeiro ano, o BRT registrou 6 milhões de passageiros. De acordo com pesquisas realizadas com os usuários, um terço deste total tinha migrado do carro.
E o BRT de Los Angeles, baseado no exemplo brasileiro continuou convencendo. O número de passageiros cresceu em proporções bem maiores que o aumento populacional.
Em 2006, a meta de passageiros prevista para 2020 foi alcançada, o que mostrou que a população aprovou e procurou o BRT em Los Angeles fazendo com que ele fosse aperfeiçoado para uma demanda maior.
A popularidade do sistema foi tão grande que ele teve de ser licenciado pois o ônibus virou miniatura da Matchbox.
Uma solução brasileira que acabou contribuindo com a qualidade de vida de norte-americanos.
Hoje, apesar de maneira acertada, os Estados Unidos continuarem investindo em malha metroferroviária, o sistema de ônibus é modernizado constantemente e em caro como uma das principais maneiras de oferecer mobilidade urbana.
Ideia, seguida por todo o mundo, o Brasil tem, profissionais capacitados e uma indústria que produz ônibus de qualidade também, pressa e necessidade é o que não falta nos centros urbanos. Basta de fato, o transporte público ser priorizado, o que em alguns casos, há sinais de que possa vir acontecer, mesmo que tardiamente.
Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes.

Comentários

Comentários

  1. jair disse:

    Excelente matéria, parabens.
    Veja se consegue fazer com que isto possa se tornar do conhecimento do publico, para poder formar opinião de consenso.
    Não basta circular somente no nosso meio, ou seja, entre aqueles que compreendem a importância do relatado.
    Voce não conhece ninguem da Folha ou Estadão, ou emissoras de TV?
    A matéria merece.

  2. Obrigado Jair. Eu tento divulgar o link em redes sociais e listas e conto com a ajuda dos amigos que acompanham o Blog na divulgação também.
    Até conheço pessoas em outros órgãos de imprensa, mas não fica razoável um jornalista mostrar seu material para outro, por questão de ética. Mas se um leitor indicar o link, aí não há problemas,
    Concordo Jair que informações como esta não são para busólogos apenas ou apaixonados por transportes. A população em geral, que elege aqueles que devem definir as políticas públicas na área de transportes, deve saber de fatos e dados como estes e até discutir outras alternativas e pontos de vista.
    Mais uma vez, muito obrigado.
    Adamo Bazani

  3. ANDRÉ disse:

    Isso é bom… É preciso que seja feito melhoria de investimentos no setor de transporte para que a situação posa melhorar para as pessoas que utilizam e esse exemplo é legal para trazer para o Brasil, Brasília.

  4. andresa disse:

    Acredito que o DF possa contribuir e muito com o sistema de transporte caso alcance melhorias… Uma dica para tal é investimento nas empresas de ônibus, vale a pena apoiar e incentivar. Vamos que vamos.

  5. O BRT e outras alternativas são soluções brasileiras que foram seguidas pelo mundo (e ainda são), o que prova que temos uma indústria e profissionais competentes, tanto na fabricação dos veículos e elaboração dos sistemas. Mas tudo isso depende para ser colocado em prática de vontade e política pública que não priorize o transporte individual.

  6. Gustavo Cunha disse:

    Boa noite.

    EXCELENTE MATÉRIA, Adamo !

    O conteúdo vem de encontro ao que tenho aqui dito; que devemos ter orgulho de sermos brasileiros, pois nossas soluções são utilizadas em um país como os Estados Unidos !

    Eles estão fazendo o que é possível no momento, não abrindo mão do que é necessário, para o futuro, tenhamos certeza.

    Precisamos é implementar, em escala, estas importantes estratégias, pois quanto mais demoramos, mais difícil e caro fica, com a população sofrendo a cada dia.

    Abraços.

  7. Obrigtado Gustavo. Se não fossem as injustiças, a falta de vontade polpitica e a corrupção, ninguém seguraria este País. Sem nacionalismo barato, mas talvez pelo sofrimento, necessidade, não sei o motivo, mas o povo brasileiro é um dos mais inteligentes e têm soluções e respostas rápidas. E não estou dizendo de jeitinho brasileiro.

    Abraços e obrigado pelos comentários sempre

  8. Paulo Gil disse:

    Amigos, bom dia

    “EM CASA DE FERREIRO O ESPETO É DE PAU”

    Muito obrigado
    Paulo Gil

  9. Paulo Gil disse:

    Adamo, bom dia

    Por favor pede para os seus amigos da Orange Line” uma minuatura dessa pra mim.

    Veja o custo e me passe os dados por e-mail que eu faço o depósito.

    Ou se possível, informar se já está a venda aqui no Brasil.

    Se eles quiserem mandar de brinde, eu aceito de bom coração.

    Grato
    Paulo Gil

  10. Antonio Carlos disse:

    Legal essa matéria, bem que o GDF poderia rever seus conceitos e investir pesado no transporte público da cidade. Não aguento mais o trânsito da cidade.

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