“População e Justiça foram por vários anos enganadas”, diz prefeito sobre transporte em Mauá

 

Readequação de linhas do lote 01, entrada de nova empresa no lote 02, novo sistema de bilhetagem eletrônica e futuro terminal de ônibus são para o poder público ações concretas da mudança da situação de descontrole sobre o transporte de passageiros da cidade no ABC Paulista.

O prefeito de Mauá, Oswaldo Dias, esteve na manhã deste sábado, dia 06 de novembro, no Terminal Central de Ônibus da Cidade, para acompanhar as mudanças nos transportes coletivos do município. Depois de uma disputa judicial que se prolongou por mais de dois anos, finalmente a Empresa Leblon Transporte de Passageiros pode assumir de fato as 18 linhas municipais que compõe o lote 02.

A Leblon venceu a licitação em 2008, mas companhias de Baltazar José de Souza, empresário que atua nos transportes da região do ABC há cerca de 30 anos, criadas para participarem do certame entraram em várias instâncias da justiça. Em todas a Estrela de Mauá e a Transmauá perderam.

O prefeito Oswaldo Dias foi bem claro quanto a atuação das empresas de Baltazar e as constantes disputas judiciais.

“Por vários anos a população foi enganada, a justiça foi enganada também. As empresas que concorreram eram todas do mesmo dono. Se apresentavam com nomes diferentes, mas sempre da mesma pessoa. Até mesmo em contatos e negociações com estas viações, um único interlocutor respondia por todas as operadoras de transportes de município.” – disse Oswaldo.

O prefeito afirmou também, em entrevista na vistoria que fez ao terminal, que a reformulação dos transportes da cidade representou, entre outras coisas, a quebra de um monopólio de 28 anos que não era benéfico à população.

“Havia sempre as promessas de novas empresas. E realmente, havia novas empresas, mas todas com o mesmo dono, só trocava de nome” – complementou.
Oswaldo Dias também afirmou que a Prefeitura não tem divergências contra o empresário Baltazar José de Souza, mas que o monopólio era algo não previsto pela licitação. “Ele continua a operar o lote 01, com a Viação Cidade de Mauá, que é mais numeroso, inclusive”

O prefeito da cidade do ABC Paulista, que possui cerca de 450 mil habitantes, afirmou que os transportes a partir deste sábado não serão mais os mesmo, e mudarão para melhor. Ele pondera, no entanto, que há ainda muito o que fazer.

“A entrada da Leblon e a implantação do Cartão Da Hora, o novo bilhete eletrônico, são um marco importante, mas não é o ponto final das reformulações. A população precisa de mais e vamos fazer” – afirmou.

Oswaldo Dias também prometeu a reforma no terminal de ônibus central e assegurou que, quando as duas empresas de ônibus estiverem com a mesma tecnologia de bilhetagem eletrônica, a integração será feita mesmo fora do terminal, em qualquer ponto da cidade. “A integração vai ser no cartão e não somente num local fechado”
O Secretário de Mobilidade Urbana de Mauá, Renato Moreira, também enfatizou que as ações práticas sobre a instalação do sistema tronco alimentador também vão alterar não somente os transportes públicos, mas também a vida de que usa carro.

Fim do monopólio:  Ônibus da Viação Cidade de Mauá (branco) e da Leblon (prata) no Terminal Central de Mauá

Pelo crescimento populacional ao longo dos anos, sem respostas rápidas do poder público, a cidade tem uma estrutura viária que precisa ser melhorada e que não comporta adequadamente o volume atual de veículos.

Com o sistema tronco alimentador, o número de ônibus na região central de Mauá deve diminuir, sem, no entanto, prejudicar a rotina dos passageiros, garantiu o secretário.
“É questão de planejamento e otimização. “Com o sistema tronco-alimentador vamos transportar a mesma quantidade de passageiros com menos ônibus” – afirmou neste sábado Renato Moreira.

Um exemplo de sistema tronco-alimentador que deve ser entregue em Mauá é o do Jardim Zaíra. Quando o Terminal do Zaíra estiver pronto, ônibus menores que servem os bairros próximos irão até o local, de onde o passageiro embarca em ônibus de alta capacidade, como os veículos articulados. A região do Zaíra pertence ao lote 02, que é operado pela Leblon.

Secretário de Mobilidade Urbana, Renato Moreira, e o  prefeito Oswaldo Dias


Viação Januária é passado

Recentemente este espaço publicou fotos de ônibus novos comprados por Baltazar José de Souza com a numeração, a cor azul do teto, e o nome da Viação Januária. Os veículos vieram da encarroçadora Mascarello.
Em entrevista no sábado passado ao jornal regional Diário do Grande ABC, Baltazar afirmou que a Januária não aceitaria o novo Cartão Da Hora. Na mesma matéria, assinada pelo jornalista Sérgio Vieira, o jornal da região informava sobre uma possível encomenda de 85 ônibus novos de Baltazar para o lote 02.

Questionado por este repórter sobre qual seria o paradeiro desses ônibus, o Secretário Renato Moreira descartou o uso deles no lote 02, que antes de ser assumido pela Leblon, com 86 ônibus zero quilômetro, era operado pela Viação Januária, outra empresa Baltazar.

“A Januária operou somente até às zero hora e cinqüenta do dia 06. Hoje no sistema estão operantes duas empresas regulares: a Viação Cidade de Mauá e a Leblon Transporte de Passageiros” – informou o secretário.

A jovem farmacêutica Leila Leal viaja em ônibus da Leblon

Processo de transição

Diante das constantes ameaças e atentados sofridos por representantes da Leblon e da Secretaria de Mobilidade Urbana, o clima era de tensão antes do início das operações.
Além da própria Guarda Municipal, as polícias civil e militar cercaram o terminal de ônibus central e ficaram em pontos estratégicos da cidade.

Apesar de expressarem contentamento em trabalhar na nova empresa, muitos motorista e cobradores não escondiam um certo receio.

Vários boatos se espalharam pela cidade, mas até a conclusão desta matéria nenhum incidente grave havia sido registrado pelas autoridades de segurança.
A população recebeu bem as mudanças, apesar de algumas dúvidas principalmente em relação aos horários de algumas linhas.

O primeiro passageiro da Leblon, registrado por nossa reportagem, foi Aparecido Vieira, que pegou o ônibus antes mesmo das quatro hortas das manhã para trabalhar.
Ele revela que a surpresa foi boa.

“Vai melhorar o que tava precisando faz tempo. O ônibus também é muito bonito.”

A usuária Cláudia Oliveira Ramos, por volta das cinco horas da manhã, iria usar uma outra linha de ônibus, mas fez questão de se aproximar de um dos novos ônibus articulados, Volvo B 12M, com tecnologia avançada de segurança, espaço e conforto, apenas para apreciar o veículo.

“Estou muito feliz que os transportes na cidade estão mudando. Todos precisávamos disso. A população merece: entrar neste terminal com orgulho” – disse Cláudia.

A farmacêutica Leila Leal mora num bairro servido pelos ônibus da Viação Cidade de Mauá (lote 01) e trabalha em outro bairro atendido pelos veículos da Leblon Transporte de Passageiros. Embaraçando no terminal, num ônibus Volvo B 12M da Leblon, ela disse não ter dificuldades em relação à integração.

“Foi fácil e creio que os transportes vão melhorar. Aliás, não só creio como vi. Fiquei menos tempo esperando chegar este segundo ônibus e achei ele bem grande, espaçoso, novo, limpo. Passa uma sensação de segurança na gente. Ele tem quatro portas e isso deve ser bom pra entrar e sair mais fácil” – disse a jovem farmacêutica.
Neste sábado, os cobradores da Leblon foram orientados a aceitarem os cartões antigos que serão substituídos pelo Cartão Da Hora, para facilitar a integração entre as duas empresas e o não prejudicar os passageiros que ainda têm créditos antigos.

A troca dos créditos do cartão magnético atual por passes de papel ou por créditos do novo Cartão Da Hora foi prejudicada pelo mais recente instrumento jurídico movido por Baltazar José de Souza contra a licitação. Enquanto a Justiça analisava o agravo de instrumento de Baltazar, as trocas foram suspensas. A decisão do desembargador Antônio Carlos Malheiros, que foi divulgada em primeira mão no blog, ocorreu no final da tarde desta sexta-feira.

Já a partir de segunda-feira, o passageiro deve trocar seu cartão atual magnético pelo novo Cartão Da Hora, que por enquanto só é aceito nos ônibus da Leblon, até que os ônibus da Viação Cidade de Mauá se adaptem. Quem utiliza os veículos das linhas do lote 01 deve trocar os créditos por passes de papel que são provisórios. Para quem utiliza as duas empresas, o mais recomendável é trocar parte dos créditos do cartão antigo por passes de papel e outra parte por créditos depositados no Cartão Da Hora. Os ônibus da Leblon também aceitam passe de papel.

As duas empresas também aceitam pagamento em dinheiro.

Funcionários da antida empresa

A Empresa Leblon Transporte de Passageiros afirmou mais uma vez que dá prioridade à contratação dos funcionários que atuaram na empresa descredenciada, Viação Januária.
Por conta das especulações e instrumentos jurídicos conta a licitação, entre outros motivos, a procura não foi a esperada pela empresa e prefeitura, apesar de o responsável pela Leblon, Álvaro Rodrigues, ter em assembléias no Sindicato dos Rodoviários do ABC, e o presidente da entidade de trabalhadores, Francisco da Silva, o Chicão, garantido a preferência pelos profissionais da Januária.

“Eu peço a todos os funcionários que prestavam serviços pela Januária, que estiverem interessados em trabalhar conosco, que compareçam ao Centro Público de Trabalho e Renda. Há vagas na Leblon em aberto e esperamos por vocês para a seleção” – retificou Álvaro.

Primeiro ônibus da Leblon Transporte de Passageiros a sair na rua, em Mauá

A primeira viagem oficial

Nem eram três e meia da madrugada deste sábado, e este repórter estava lá. Pronto para registrar e presenciar a primeira viagem da empresa que representa a quebra de um monopólio de quase trinta anos.

Apesar das apreensões em relação às ameaças e aos boatos, todos os funcionários estavam motivados e felizes.

Chovia de fraco a moderado, mas não fazia muito frio.

Logo este repórter pergunta ao coordenador de tráfego qual seria o primeiro carro a cruzar os portões da empresa pela primeira vez para uma viagem comercial.

O primeiro ônibus foi o 2434, Marcopolo Torino, zero quilômetro, motor eletrônico, Volkswagem 17-230.

O destino era o bairro periférico Zaíra 5, um núcleo habitacional numa região bastante carente.

Fomos em três para o ponto final. Eu, o cobrador e, claro, o motorista.

Daniel, que dirigia o ônibus novo, refletia entusiasmo e não conseguia conter a emoção.

“Prá mim, mesmo tendo experiência em condução de ônibus, é uma vida nova. É um começo. Fico feliz de estar aqui”.

O ônibus foi percorrendo, ainda com as luzes internas apagadas, já que ia para o ponto final iniciar a viagem, diversas paisagens diferentes, que mostravam desenvolvimento e outras que mostravam as necessidades da população por uma condição de vida melhor.’

Após passar por vias centrais, as ruas se estreitavam. Era uma subida e descida.

Parte do trajeto era bucólico com cheiro de relva molhada da madrugada. Ao mesmo tempo era um tanto quanto assustador. Pelas ruas escuras.

Mas o ônibus novo foi desbravando os caminhos que fará várias vezes ao dia, todos os dias.

O interessante era a mudança de pavimento. O asfalto mais bem cuidado das ruas centrais já dava lugar ao mais precário de alguns bairros. Depois subidas e descidas eram feitas em ruas de paralelepípedos até que repentinamente a rua se tornava de terra.

Não havia mais para o ônibus ir. Era um dos extremos da cidade. Então, numa espécie de retorno, o ônibus manobra. Uma pra frente, uma ré. Outra pra frente e outra ré e manobras até colocar o veículo no sentido oposto da mesma rua.

As luzes se acenderam.

O motorista Daniel não contém a feição de estar emocionado e, espontaneamente, começa a narrar. “Aqui começa uma nova era no transporte público de Mauá. Isso começa hoje”
É o que a população espera, amigo motorista Daniel.

Comentários

Comentários

  1. GERSON RIGRAS disse:

    Parabéns a Leblon pela excelente performance no primeiro dia de operação!

    Começa uma nova era no transporte e no trato com o ser humano em Mauá…

    Um forte abraço Ádamo e parabéns pelo empenho nas reportagens!!!

    Sucesso a todos!!!

  2. MARCOS GALESI disse:

    Amigo Adamo Bazani, Amigo Milton Jung

    Parabéns por mais esta bela reportagem, Mauá precisava ter uma mudança significativa nos transportes, foi uma mudança da agua para o vinho.

    A população de Mauá ficará feliz com estas mudanças, pois é fim de um monopólio de quase 30 anos, não é possivel haver monopólio, o municipio e a população tem o direito de escolher o que é melhor para ela.

    Se a empresa A não está correspondendo as expectativas, então que entre a empresa LEBLON e apresente o serviço que Mauá carece.

    APROVEITO E ENVIO UM ABRAÇO especial a todos da empresa LEBLON especialmente o Sr.Alvaro que é uma pessoa muito abençoada por Deus. Que Deus sempre o ilumine.
    E claro desejo de coração toda felicidade ao povo de MAUÁ.

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